19 de abril de 2010







tanta coisa à minha volta tudo sempre girando
tanta coisa para saber tanta coisa para aprender

e tanto te posso contar tanto te posso ir revelando
tanta coisa de tanta coisa que nem eu sei dizer

tudo isto tem um nome? tudo isto tem um lugar?
de onde vem tudo isto? hei-de um dia saber?

para tudo há um propósito com tudo te vais admirar
que a vida é um mistério que fica por responder...

achas que sou capaz de chegar ali? e ali? ali e ali?
quero ir a todo o lado... a todo o lado quero chegar...

tu és grande... vais ver que a grandeza está em ti...
às vezes basta fechar os olhos e querer sonhar...

10 de abril de 2010




antes era sempre tudo melhor
havia todo o espaço do mundo à nossa frente
agora esse espaço somos nós
a ocupar cada centímetro quadrado desse sonho
e ver que não sobra espaço para acordarmos

antes era sempre tudo melhor
até aquilo que ainda não era
que agora há este travo amargo na boca
de termos deixado arrefecer a comida
e o vinho ter azedado para lá da embriaguez

antes era sempre tudo melhor
davas-te conta que eu existia em toda a tua volta
e agora apenas tropeças em mim
se tens de correr para adormecer sozinha
ou precisas de alguém para te pintar a casa

antes era sempre tudo melhor
por isso se morrer agora não me importa nada
fui feliz antes de o ser e pude antecipar
com a triste amargura de quem sabe
que nada se repete nem nada se aperfeiçoa

4 de abril de 2010







Há uma casa. A casa é pequena e as suas janelas ainda a fecham mais porque o que se vê lá fora é muito longe. Dentro da casa estão os livros e a música que toca sem ocupar espaço nas prateleiras. Dentro da casa metade das coisas podiam arder agora mesmo. Ele não chorava. Ele está parado a pensar se há-de dormir ou pegar fogo a metade das coisas que o rodeiam. Pegava em tudo e fazia uma escada de fogo até ao céu, bem no centro do ainda mais pequeno jardim, acabando de vez com a azálea que nunca deu flor.
Ele está a pensar em tudo isto e dá-se conta que isso tudo é afinal mais uma porção do nada que foi o seu dia. Um dia empurrando a carroça pesada do silêncio. O estar só. O querer estar só como uma sobriedade arrancada à força do chão, com pouca terra a sujar as mãos, apenas uns fios transparentes, lembrando raízes de água. Ele fecha o livro. Nunca mais o acaba. É pesado para as suas mãos cansadas. Passaram o dia a medir o desconsolo dos olhos e da boca, quem sabe dos ombros que já não carregam mais nada. O tempo. Apenas o tempo que passa tão devagar, tão devagar... que dava para lhe sentir o gosto a eternidade.