6 de novembro de 2003

poema I

é este o afecto das palavras que tanto procuramos
o nosso pensamento ancorado a um pássaro de fogo

um peso refulgindo a esperança em nossos ombros
as cortinas ondeantes da paz nos fechando os olhos

estamos tão próximos que podemos habitar a casa
tão serenos que a música tropeça nas nossas bocas
como se abrissemos um livro à claridade do silêncio

agora podemos voltar a chamar as primeiras chuvas
a incandescência do verão dispersa pelo passado
os nossos campos de trigo ombreando a ausência
ou a mesma colina onde declinávamos o horizonte

agora sabemos como são frágeis todos os desejos
como são vagos os sonhos que resistem ao cansaço

e tão doce este carinho na contradança do poema
quando nele soletramos a respiração dos gestos