30 de abril de 2008



podemos estar desfocados pelo tempo
ou perdidos na imensa escuridão do silêncio

podemos adormecer sem saber se vamos acordar
e acordar sem saber se vamos adormecer

podemos esquecer todos os nomes do mundo
e apagar todas as casas onde vivemos

podemos morrer as vezes que quisermos
e nesse esquecimento perder as nossas raízes

podemos ter gasto as nossas forças à procura
e nunca ter encontrado outra paz igual a esta:

um irmão nascido a meio caminho dos sonhos
do mesmo sangue que dá vida à eternidade


(para o pi - 29 de abril)

23 de abril de 2008

UM PENSAMENTO E MEIO


e se as histórias para crianças fossem de leitura obrigatória para os adultos?

seríamos capazes de fazer aquilo que passamos a vida a ensinar?


(josé saramago)

19 de abril de 2008



(no dia do meu aniversário)


caminho sozinho e encontro de frente todo o meu tempo gasto
o que choro de tristeza dá para molhar as calçadas todas das cidades do mundo
mas não estou infeliz

há apenas esta gota de revolta no algodão frágil da felicidade
a nódoa cinzenta de estar sozinho
no lugar que dá para a beleza das coisas mais doces

há apenas este silêncio semibreve como uma canção de inverno
trazendo frio aos pássaros e às pedras das margens do pensamento

há apenas esta solidão que fere e que me fecha a boca
a mesmíssima boca de onde esperas os meus beijos
e os meus poemas e as minhas promessas de amor

que dirás quando tudo se calar?

14 de abril de 2008

podes estar sozinho

mas a oração do teu silêncio

nunca há-de ser só tua

 

também as pedras

a fina luz de seda

os bancos alinhados na solidão

 

escutam esse começo de deus

que é uma voz sussurrar-se dentro de nós

contra o vazio