31 de outubro de 2006

até no fim (ao fim)


espaço
partilhado por danielsg.

não imagino um limite
uma estrela ao fundo da noite
ou um horizonte preso à sua linha dorsal

não acredito na profundeza da escuridão
nem na aridez do silêncio
ou na morte imprevisível de todas as árvores
ou de todos os pássaros ou de todos os búzios

mas há um momento indelével
em cada palavra de amor

(uma vida acrescentada à eternidade)

um quase poema sobre o outono


Window Raindrops
partilhado por danielsg.

de dentro da casa é fácil recolher as gotas da chuva
estão atadas à janela que dá para a tarde fria

cada uma é como a tristeza condensada do outono
o não podermos passear junto ao mar (sem nos confundirmos
na indelicadeza da rebentação)
a mão pesada do vento nos alagando os cabelos (entrançando
por vezes os teus nos meus)
e todas as folhas que queriamos juntar (uma a uma até termos
os olhos cheios)

e é estarmos como uma promessa de amor
do lado de dentro do coração
vendo a vida passar apressada lá fora

16 de outubro de 2006

para o joão pinto (como um telefonema ao fim do dia)


mistico
partilhado por danielsg.

preciso renovar-te todas as manhãs este poemário de amor
preciso recontar-te todas as palavras com que nos amamos

e todas as manhãs reencontrar-te na mesma paz inviolável
e todas as manhãs soprar-te os nomes das nossas árvores

porque a noite é um intervalo de silêncio pesando nos olhos
uma extensão infinita de searas de onde se arrancou a luz
ou os pássaros de fogo ou os flancos acesos dos girassóis

porque gastamos tanto tempo da nossa desatenção à espera
tanto tempo do tempo que julgamos ser a nossa eternidade
atando pedras e outros ciprestes à respiração das estrelas
como se não houvera outro ofício para os nossos sonhos

porque é difícil suportar sozinho a inclinação destes afectos
porque o amor quando cresce ata-se à promessa da poesia

e todas as manhãs a poesia pede-me que te diga (outra vez)
como o teu coração aprendeu a desenhar o rosto do amor


(poema em construção)

daniel gonçalves

um poema de amor: com uma casa em flor


varandaflor
partilhado por danielsg.

a nossa casa é um poema donde se pode escutar o amor
a nossa casa é feita das palavras que atamos ao coração

da música e o seu silêncio encontrado nos nossos bolsos
do vaso de gerânios respirando com o linho das cortinas

porque sabemos quais são os livros que nos adormecem
os livros que guardam a embarcação urgente dos sonhos
os livros que são as nossas mãos anunciando os sonhos

porque as palavras que tecemos quando queremos voar
são as mesmas que usamos para cobrir os nossos corpos
as mesmas que vão repetindo até à exaustão das horas
o contorno tão doce do coração de cada um dos carinhos

quando nos deixamos adormecer sobre o chão dos dias
certos de termos dado uma porção de paz à eternidade

certos de termos a poesia em redor dos nossos afectos
e de ser essa a pedra a cal a buganvília da nossa casa


(poema em construção de "vinte poemas de amor e uma canção esperada")

daniel gonçalves

11 de outubro de 2006

tempo azul


tempo az
partilhado por danielsg.

há um tempo azul para as nossas coisas
que vai deixando uma marca

que cai no chão das memórias
tornando-as azuis

também

porta mistica #41


porta mistica
partilhado por danielsg.

sem muito que dizer
se a paz mora dentro da casa

flores de vidro


flores de vidro
partilhado por danielsg.

adorava escrever um poema
que dissesse o que sinto

quando olho pela janela
e reparo que o meu tempo
deu tempo a estas flores
de se outonarem dentro de mim

o chão dos dias


chão dos dias
partilhado por danielsg.

encontrar-me-ei com a memória da nossa vida
no chão dos dias que pisámos

com a mesma orientação das sombras
por onde fomos ter a nossa casa

onde o amor dos nossos afectos
era tecido com as palavras
que não precisávamos de dizer

4 de outubro de 2006