28 de maio de 2010



esse rio na selva é o único poço onde podes ser transparente
o rio que te obriga a despir a inquietação de seres pequeno
e te permite ser deus com apenas dois remos e uma candeia

nessa viagem compreendes as coisas que sempre te pesaram
aceita-las como quem concorda com a hora da morte e sorri
esvazia os bolsos e acrescenta os trocos mal geridos da vida

o rio é muito mais que uma artéria serpenteando e circulando
corpo de água que nunca irrompeu nem nunca se dissolveu
escrinventando nas margens as raízes com que o teu silêncio
há-de crescer até ser a única meditação que te arrepia a pele

os teus sentidos são uma chama que respira nas tuas mãos
fechas as mãos e apagas tudo quanto te desacomoda a alma

e depois és igual a uma canoa que prospera na escuridão
um corpo que é um poema líquido doçura solvente de sonho






in "um segundo é passado" daniel gonçalves 2010

14 de maio de 2010




assim como quem se deita na terra e fica a olhar o céu
sem nenhum peso no olhar
além do conforto de saber que as nuvens jamais cairão sobre nós

assim como quem mergulha no mar
e se deixa ir ao fundo
recolhendo a imensa paz que vem de sermos apenas uma gota

assim como quem se cala na imensa catedral do silêncio
e fica a escutar um a um o sopro que o coração debita sobre
os nossos sonhos

assim desta maneira
me guardo para ti

para estar limpo e inviolável
na hora de te abraçar



(Susana, desculpa ter passado a hora de te dizer os parabéns: mas tu sabes que o meu amor por ti não tem hora, nem dia...)

6 de maio de 2010


como um búzio perfeito proteges o teu coração
deitas-te na terra e escutas o primeiro sinal do amor

enquanto o mundo procura arrancar-te as asas
e dilacerar-te com o silêncio o ardor do teu desejo