17 de setembro de 2010





naquele dia escrevi-te um poema de amor
um poema de amor tão longo que poetas houve neste mundo
que não escreveram livros inteiros tão longos

um poema que tinha três quatro palavras
(tão longo nem lembro bem)
três ou quatro palavras que se repetiam
repetiam e repetiam
ao expoente da loucura e da eternidade

e nesse dia deixaste de ser apenas um desejo
uma mulher posando rosa ou buganvília no jardim de outra casa
um perfume a esvair-se de ar e água
sempre tão efémero
sempre tão pequeno

8 de setembro de 2010

Se tiverem curiosidade, poderão espreitar como vai o meu próximo livro, vencedor do Prémio de Poesia Manuel Alegre. Não sei ainda quando será publicado, dado que o IPL detém os direitos da primeira edição da obra.






para ti as rosas
como as que ricardo reis
cuidava

sozinho ou desatado
do seu lugar no mundo

para ti as rosas
como as que ricardo reis
perfumava

com a fina tristeza
de saber que o tempo 
consome a poesia

e todas as palavras
do amor





um inverno assim
quando o cansaço
redemora o pulso da respiração

ou a tristeza está nas mãos
que arrefecem
com o fim do dia

um inverno assim
com o mar feito 
de algodão e água de música

e o fim da tarde
alagando a distância
e o vazio




numa noite como esta são transparentes as flores
e equidistantes os esquecimentos e as candeias
com que vemos ao longe os nossos primeiros passos

numa noite como esta o tempo pensa na eternidade
e todos os horizontes vêem a sua morte adiada
como as árvores têm música quando chega abril

numa noite como esta é possível encontrar o amor
como se deus viesse de novo ocupar a sua casa
e pôr no sítio certo as palavras deixadas ao acaso 

numa noite como esta em que ambos adormecemos
como na última noite em que a nossa infância se deitou

voltamos a acreditar que a lua é apenas outro anjo
outro cavalo outro baloiço outro sorriso outra oração