25 de dezembro de 2008





muitos só poderão ver o filme SEVEN POUNDS em 2009: senti-me um daqueles que decidi o que é oscarizável ou não: for your consideration only. tudo para dizer que chorei com três meses de antecedência. e o óscar ia direitinho para este filme. assim. sem mais interferências.



23 de dezembro de 2008

volta tudo ao mesmo lugar
ao mesmo nome com que chamamos as nossas rosas

volta tudo ao mesmo sentido imperceptível da tristeza
ao quarto fechado pela lado impossível da noite

volta tudo a ter uma mão por onde se puxe o soluço
por onde a chuva doa mais
como um vidro que nos amputa a palavra

e deixamos de ter a poesia do nosso lado
para escutarmos apenas o silêncio
não posso dizer outra coisa
que não seja esta porção de palavras
acostumadas à sombra

e deixar a minha voz suspender-se
como o outono atrás de mim

sem outro ofício que o da tristeza
que é feliz
como todas as outras formas
de arte
não entendo esta língua
não lhe encontro a raiz
a casa o ancoradouro a asa

ouço-lhe a música
fito-lhe a vibração
a doçura

e deixo-me desentender
de todos sentidos

pondo o meu coração
à escuta




já que não estavas ao pé de mim
fui buscar-te ao poema
onde te escondi pela primeira vez

o vinicius sabe bem como é o cântico
a página onde parámos os dois
para ver o sol girar

22 de dezembro de 2008




não gosto do natal: sou mesmo contra o natal
detesto esta confusão que se faz entre o sagrado e o profano
onde um é pretexto para o outro
e onde o outro mede a tristeza e o engano todo deste mundo

não gosto de ver os presépios montados com os reis magos
e com o menino jesus todo sueco
e são josé e maria vestidos como fidalgos renascentistas
e tanta estupidez à volta de luzes 
que piscam e piscam para distrair o povo da miséria

mas o que eu detesto mesmo são mensagens de natal
daquelas que vêm formatadas às centenas
a bater no telemóvel

e o que detesto ainda mais
mesmo mesmo mais

é estar tão longe do são joão
isso sim é que é festa

com luzes alegria e sobretudo
verão

21 de dezembro de 2008





tudo começa com a involuntária loucura das mãos
a revelação encoberta da arte
que nos aproxima demasiado do paraíso

e depois vem a libélula de deus
colocar um centro magnífico
na espera da luz

para que vejamos de onde tudo parte
para que tudo tenha um nome

para que saibamos que há pedras neste mundo
e rosas também

sobretudo rosas
(de ninguém)





para o carlos vaz (com imagem de emerenciano)




o que eu precisava agora
era de um pessegueiro
e de um céu carregado de nada

leve (tudo leve)
para não sentir mais nada

apenas o perfume exacto da
natureza

a terra crescendo na sua medida
certa

e eu por baixo
a sonhar


(para o alberto caeiro: com sortilégio)