27 de junho de 2006

como um poema de amor


detalhe de lenço de namorados
partilhado por danielsg.

não queria deitar-me
sem escrever-te um poema de amor

um poema em que visses como
é fácil dizer-te que te adoro

um poema que o próprio fernando pessoa escrevesse
se soubesse como se ama deveras

um poema que nem sequer ousasse
pegar em palavras ou em silêncio

um poema que fosse tão somente
esta respiração de afectos

com a forma de coração

sem título (embora óbvio)


Blur
partilhado por Javali do Deserto.

em mim és o contorno mais nítido
a palavra exacta do amor

26 de junho de 2006

um dia: assim


caleta
partilhado por danielsg.

um triciclo é a infância resumida
em círculos e contradanças
no caminho

a nossa: repetida nos cheiros
levantados com a poeira

a dos nossos filhos:
na atenção que damos a cada sorriso
na emoção ampliada da
felicidade

18 de junho de 2006

texto com caminho (parte 1)


road to nada
partilhado por danielsg.

um caminho é assim:
feito de distância e de sede

até chegarmos a casa
e amarmos o resto do dia
(ou da vida)

texto com caminho (parte 2)


cartier-bresson
partilhado por danielsg.

um caminho é assim:

teremos pela frente o tempo
acompanhando o nosso sonho

e o cansaço espreitando
como árvores altíssimas
ao longo da distância

e se o amor bastar
nem uma sombra
nos há-de ferir

com título por revelar


coração
partilhado por danielsg.

um coração riscado no coração da noite
entre o silêncio das estrelas que sonham
entre os espaços que ficam por revelar

um coração riscado no carinho das nossas mãos
como se inventássemos outras palavras
para desvendar os afectos que atamos
a cada abaraço que tecemos juntos

um coração riscado em nossos corações
como um sinal de que o amor tem forma
para nos lembrar que existimos um no outro

10 de junho de 2006

silêncio com ansel adams


ansel adams
partilhado por danielsg.

o medo de te perder
é como o inverno parado
numa árvore

o silêncio que se apodera
da respiração

e adia a a primavera

uma borboleta no coração da vida


farfala
partilhado por danielsg.

se fores borboleta
protego-te assim

flor a flor
sobre a tua pele

deixando a manhã presa
sobre nós

até se repetir outra vez
a primavera

entrada para a música


casa da música (da sílvia)
partilhado por danielsg.

a música tem sempre uma entrada
à porta do coração do silêncio

em mim abre-se um clarão
pontualmente ao fim da tarde

ontem: enquanto tudo se adormecia
dentro de casa

billie holiday deu-me as mãos
e fez-me dançar três instantes

sem título (no entanto com água)


fonte em bravães
partilhado por danielsg.

há fontes que nunca secam
há fontes que sabem a água
toda do mundo

há fontes que são como o
coração deste amor

quando procura um carinho
encontra um pomar de carinhos

quando procura um afecto
encontra um mar de afectos

quando tem sede
olha para ti

9 de junho de 2006

sobre o tempo: uns detalhes ou versos incompletos


chevrolet
partilhado por danielsg.

o tempo derrama sobre nós um carinho que nos veste
e embora pareça que envelhecemos
afinal são as rugas desse algodão ou dessa seda
com que nos fomos compondo para a nudez do mundo

e sempre que olho para a minha pele
sinto que as mãos que me tocam
são as mãos que tocam as memórias
de termos estado atentos às pequenas coisas

olho aqui e ali as vezes em que falamos sobre a água
que foram as vezes em que não dissemos nada
ou deixamos o silêncio enrolar-se na nossa desatenção
como se quisesse entrar pela nossa delicadeza
(mais a tua que a minha: sempre foste mais flor)

e agora que penso nestes recados deixados assim
neste pensamento caiado de saudade de tudo
vejo como sabe bem guardar todos os carinhos
deixá-los um sobre o outro (sílaba a sílaba)
para nos sentirmos outra vez um junto do outro


como a última árvore do mundo


no sal
partilhado por danielsg.

como a última árvore do mundo
estás no coração de toda a sede

sem título ou quase

chorões
chorões,
deixado cá por danielsg.
é só um carinho
esta palavra
que repito
ao expoente do silêncio

é só um carinho
este doce encanto

como a luz incidindo
nas flores
do nosso amor

5 de junho de 2006

amor com fado


Amália Rodrigues, deixado cá por danielsg.

Por que voltas de que lei
Vem este sentir profundo
Por te saber como sei
Me sinto dona do mundo

Por que espada de que rei
Meu amor é fogo posto
És tanto de quanto amei
Que és tudo de quanto gosto

Por este amor que te tenho
Por ser assim como sou
És inferno donde venho
És o céu para onde vou

Por que voltas de que lei
És tudo de quanto gosto
Me perdi e me encontrei
Nas voltas que tem teu rosto

Por que voltas de que rei
Em meu peito teu desenho
És tanto de quanto amei
Que és todo o mundo que tenho

E de tão rica que estou
Nunca tão pobre fiquei
Por ser assim como sou
E te saber como sei

portas do temp(l)o - com eliot porter


eliot porter temple, deixado cá por danielsg.

se houver uma porta de passagem
nesta vida

que seja o teu abraço
onde o carinho se protege
e abre as suas asas

4 de junho de 2006

(recado) com cartier bresson


cartier bresson, deixado cá por danielsg.

acabei de sair de casa
levei a bicicleta dos sonhos
(para voar sobre as ruas)

e se chegar com o coração apressado
não será da corrida

será do beijo que me prometeste
dar

declaração de amor com jacques henry-lartigue


lartigue xyz24
Originally uploaded by danielsg.
voa comigo

(embora pareça arriscado)

versos com brassaï


brassai lovers in bistro
Originally uploaded by danielsg.
o que vês nesta fotografia?

eu vejo as mãos entrelaçadas
os afectos entretecidos
na respiração do abraço

versos com eliot porter


eliot porter pool
Originally uploaded by danielsg.
a luz pode indicar-nos a casa
a resplandecente forma dos sonhos

passando como um curso de água
rasgando pelo meio a respiração do outono

uma luz que traz o peso do céu
a alma dos anjos presa (ainda) ao espírito da manhã

uma luz que sabe o instante em que vivemos
o instante em que abrimos as mãos
à dadiva dos nossos sentidos

e percebemos como tudo é tão belo
quanto mais soubermos escutar
as primeiras coisas (ou uma simples
fotografia do mundo)

do afecto das palavras


jhon gutmann apology
Originally uploaded by danielsg.
tenho os afectos presos às asas das palavras
afectos enchendo de água o coração das palavras

tenho os afectos atados à inviolável sede das palavras
porque quero dizer (preciso dizer) que te amo

com cartier bresson (parte 2)


cartier bresson
Originally uploaded by danielsg.
se o amor não é vão
se o amor é o coração

se o amor é isto:
então existo

com cartier bresson (parte 1)


cartier bresson
Originally uploaded by danielsg.
em paris qualquer beijo é livre
o amor despe-se nas esplanadas
e sente o ar fresco das pessoas que passam

1 de junho de 2006

detalhe


spiderweb
Originally uploaded by danielsg.
no detalhe encontras o meu amor
preso às asas da borboleta

para ser livre e leve como ela
bordado no tecido do tempo

para ser eterno

maquinaroyal


maquinaroyal
Originally uploaded by danielsg.
todo os dias
pontualmente o cansaço
inventa uma rosa
para o caminho de quem amas