31 de dezembro de 2006

poema escrito na delicadeza de um girassol


girassol
partilhado por danielsg.

se um dia foste um sonho
agora és o poema respirado
o poema escrito com a tua luz

se um dia foste o silêncio
agora és o nome que acorda o amor
o nome que me ata a manhã à profundidade da noite

se um dia foste apenas uma flor
agora és um corpo que habita o coração
um corpo como um jardineiro que repara as feridas

se um dia foste apenas um girassol
agora és um girassol que gira
que gira que gira...


PARA A BETA

27 de dezembro de 2006

poema com foto de brassaï



partilhado por danielsg.

a cor do carinho
está no ventre do amor

gerando-se no coração dos afectos
como um poema
na mão de deus

21 de dezembro de 2006

12 de dezembro de 2006

o meu outono


outono
partilhado por danielsg.

o meu outono é este
o das árvores como de toda a gente

e o da tristeza
que só alguns vêem

quando o silêncio se desata do dia
no mesmo instante que os melros

quando o frio nos retira as mãos
interrompendo os afectos

7 de dezembro de 2006

13 de novembro de 2006

mocho (do latim murtulu ou mutilu)


mocho (do latim murtulu ou mutilu)
partilhado por danielsg.

a amizade é um voo rasante
na noite do esquecimento

iluminando a escuridão
com os carinhos acumulados
da nossa vida



(para o adriano
ab imo corde)

uma espécie de poema com foto de cole porter


porter rose petals
partilhado por danielsg.

os despojos do dia trazem de volta
os nossos carinhos (os doces beijos
encontrados com os instantes de luz)

quando a maré regressa à boca da praia
para sussurrar a viagem pelo profundo azul
de onde é possível ver e escutar
a nossa promessa de eternidade

(para ti obviamente: mais que tudo)

31 de outubro de 2006

até no fim (ao fim)


espaço
partilhado por danielsg.

não imagino um limite
uma estrela ao fundo da noite
ou um horizonte preso à sua linha dorsal

não acredito na profundeza da escuridão
nem na aridez do silêncio
ou na morte imprevisível de todas as árvores
ou de todos os pássaros ou de todos os búzios

mas há um momento indelével
em cada palavra de amor

(uma vida acrescentada à eternidade)

um quase poema sobre o outono


Window Raindrops
partilhado por danielsg.

de dentro da casa é fácil recolher as gotas da chuva
estão atadas à janela que dá para a tarde fria

cada uma é como a tristeza condensada do outono
o não podermos passear junto ao mar (sem nos confundirmos
na indelicadeza da rebentação)
a mão pesada do vento nos alagando os cabelos (entrançando
por vezes os teus nos meus)
e todas as folhas que queriamos juntar (uma a uma até termos
os olhos cheios)

e é estarmos como uma promessa de amor
do lado de dentro do coração
vendo a vida passar apressada lá fora

16 de outubro de 2006

para o joão pinto (como um telefonema ao fim do dia)


mistico
partilhado por danielsg.

preciso renovar-te todas as manhãs este poemário de amor
preciso recontar-te todas as palavras com que nos amamos

e todas as manhãs reencontrar-te na mesma paz inviolável
e todas as manhãs soprar-te os nomes das nossas árvores

porque a noite é um intervalo de silêncio pesando nos olhos
uma extensão infinita de searas de onde se arrancou a luz
ou os pássaros de fogo ou os flancos acesos dos girassóis

porque gastamos tanto tempo da nossa desatenção à espera
tanto tempo do tempo que julgamos ser a nossa eternidade
atando pedras e outros ciprestes à respiração das estrelas
como se não houvera outro ofício para os nossos sonhos

porque é difícil suportar sozinho a inclinação destes afectos
porque o amor quando cresce ata-se à promessa da poesia

e todas as manhãs a poesia pede-me que te diga (outra vez)
como o teu coração aprendeu a desenhar o rosto do amor


(poema em construção)

daniel gonçalves

um poema de amor: com uma casa em flor


varandaflor
partilhado por danielsg.

a nossa casa é um poema donde se pode escutar o amor
a nossa casa é feita das palavras que atamos ao coração

da música e o seu silêncio encontrado nos nossos bolsos
do vaso de gerânios respirando com o linho das cortinas

porque sabemos quais são os livros que nos adormecem
os livros que guardam a embarcação urgente dos sonhos
os livros que são as nossas mãos anunciando os sonhos

porque as palavras que tecemos quando queremos voar
são as mesmas que usamos para cobrir os nossos corpos
as mesmas que vão repetindo até à exaustão das horas
o contorno tão doce do coração de cada um dos carinhos

quando nos deixamos adormecer sobre o chão dos dias
certos de termos dado uma porção de paz à eternidade

certos de termos a poesia em redor dos nossos afectos
e de ser essa a pedra a cal a buganvília da nossa casa


(poema em construção de "vinte poemas de amor e uma canção esperada")

daniel gonçalves

11 de outubro de 2006

tempo azul


tempo az
partilhado por danielsg.

há um tempo azul para as nossas coisas
que vai deixando uma marca

que cai no chão das memórias
tornando-as azuis

também

porta mistica #41


porta mistica
partilhado por danielsg.

sem muito que dizer
se a paz mora dentro da casa

flores de vidro


flores de vidro
partilhado por danielsg.

adorava escrever um poema
que dissesse o que sinto

quando olho pela janela
e reparo que o meu tempo
deu tempo a estas flores
de se outonarem dentro de mim

o chão dos dias


chão dos dias
partilhado por danielsg.

encontrar-me-ei com a memória da nossa vida
no chão dos dias que pisámos

com a mesma orientação das sombras
por onde fomos ter a nossa casa

onde o amor dos nossos afectos
era tecido com as palavras
que não precisávamos de dizer

4 de outubro de 2006

27 de setembro de 2006

25 de setembro de 2006

verticalidade


verticalidade
partilhado por danielsg.

olha para cima
sempre que puderes

encontrarás as asas que precisas
para voar

amor e um detalhe


amor
partilhado por danielsg.

está em toda a parte
onde menos se espera

para onde se olha
e nem sempre se repara

onde brilha o tempo
do silêncio

onde uma palavra
aguarda por ti

22 de setembro de 2006

último movimento


último movimento
partilhado por danielsg.

quando nos deixamos adormecer
já a noite tinha fugido de nós

deixando o movimento veloz do amor
com as cores do sonho

movimento três


movimento três
partilhado por danielsg.

a nossa noite mexeu-se
flutuando com as horas

e o amor soube (ainda assim)
construir uma torre
para o relógio dos afectos
contar a nossa eternidade

como um post perfeitamente óbvio


radiante
partilhado por danielsg.

por tua causa
estou

radiante

21 de setembro de 2006

movimento dois


movimento dois
partilhado por danielsg.

às dez em ponto
a noite ergue-se

no relevo do azul
escondido

que nós sabemos ser
o nosso céu

primeiro movimento


primeiro movimento
partilhado por danielsg.

de dia todos os contornos
estão expostos

os mais delicados
entrelaçados na vertigem
dos mais cansados

19 de setembro de 2006

díptico (sem um dos lados)


muralha de melgaço
partilhado por danielsg.

uma muralha ascende
ao nosso azul

divide o silêncio
dos afectos

de um dos lados estamos nós
cercados pelo coração do amor

do outro está a espera
que nos guiou a este
abraço

18 de setembro de 2006

verão desaguando


underwater love
partilhado por danielsg.

o verão acaba
subitamente

com a dor silente
da saudade

como sob a água
tudo fosse mais leve

os sorrisos


felicidade
partilhado por danielsg.

olhei a noite
profundamente azul

prendi-me às estrelas e vi nelas
os sorrisos que me fazem sonhar

3 de setembro de 2006

sombra viva


sombra viva
partilhado por danielsg.

no baloiço das horas
perdemos a felicidade do momento

e o que fica é a sombra viva
na retina do coração

onde tudo é eterno
e nos salva da vida

5 de agosto de 2006

luar sobre nós


luar micaelense
partilhado por danielsg.

vimos a noite espelhar o nosso amor
lá fora

tão fora de nós

nós que éramos o mesmo
corpo de amor

4 de agosto de 2006

poema II (de amor)


chuva incandescente
partilhado por danielsg.

um instante feliz (como num instante de cartier bresson)
um instante de luz preso à bicicleta que acorda a manhã

sou eu que me prendo à retina das coisas transparentes
sou que reconheço os contornos das primeiras coisas

é a mim que se atam os diademas das palavras felizes
é a mim que a poesia vem dizer onde está a tristeza
para não voltarmos a essa casa a essa colina de sede

desde que encontrei a tua boca reescrevendo o tempo
um tempo que não há noutro lugar nem noutro afecto
como se soubesses a exacta medida em que se ama
ou por que asa se erguem os carinhos sobre o amor

um instante feliz asilado no ventre das nossas mãos
como uma moeda para pagar a felicidade do mundo

um instante de luz que nos compense da escuridão
com que os sonhos se lançam para os nossos olhos

quietude (com poema de amor)


quietude
partilhado por danielsg.

se o amor é uma palavra é um gerânio esperando a tarde
se o amor é uma palavra é uma casa acendendo as janelas

se o amor é uma palavra temos de lhe atar a nossa boca
e desenhar no seu coração a água que nos leva da terra

assim que percebemos a delicadeza dos nossos carinhos
quando sabemos que o horizonte se prende à nossa mão
e não há outro pensamento além do nosso sonho alado

quando ouvimos a respiração do tempo transpirar por nós
ou estamos parados num instante à espera da eternidade
quando olhamos para a nossa sombra nos dorso da noite
e não há outra asa para nos unirmos à constelação da paz

quando escutamos os pássaros trazendo a primeira manhã
com que nos olhamos depois de termos perdido o silêncio

o amor é uma palavra porque está à espera deste sopro
destes afectos deste caminho desta doçura deste carinho

14 de julho de 2006

em contramão ou sem título (tanto faz)


contramão
partilhado por danielsg.

não me apetece dizer nada
não vou dizer nada
não quero dizer nada
(à parte isso tenho em mim todas as palavras do mundo)

7 de julho de 2006

estou à tua espera


brinde
partilhado por danielsg.

estou à tua espera
enquanto os outros bebem
e fingem esquecer o cansaço

eu olho pela vitrine
entre os dançarinos
de onde virás
para me levar daqui

sem título (ou destreza para um)


lar doce lar
partilhado por danielsg.

sonhei contigo
na tarde que aparece agora

sonhei contigo
como música para aliar o silêncio
às coisas lentas desta casa

3 de julho de 2006

uma casa


Geranios
partilhado por danielsg.

eu queria uma casa
com gerânios

uma casa de amor
com gerânios

uma casa contigo
(e comigo)

27 de junho de 2006

como um poema de amor


detalhe de lenço de namorados
partilhado por danielsg.

não queria deitar-me
sem escrever-te um poema de amor

um poema em que visses como
é fácil dizer-te que te adoro

um poema que o próprio fernando pessoa escrevesse
se soubesse como se ama deveras

um poema que nem sequer ousasse
pegar em palavras ou em silêncio

um poema que fosse tão somente
esta respiração de afectos

com a forma de coração

sem título (embora óbvio)


Blur
partilhado por Javali do Deserto.

em mim és o contorno mais nítido
a palavra exacta do amor

26 de junho de 2006

um dia: assim


caleta
partilhado por danielsg.

um triciclo é a infância resumida
em círculos e contradanças
no caminho

a nossa: repetida nos cheiros
levantados com a poeira

a dos nossos filhos:
na atenção que damos a cada sorriso
na emoção ampliada da
felicidade

18 de junho de 2006

texto com caminho (parte 1)


road to nada
partilhado por danielsg.

um caminho é assim:
feito de distância e de sede

até chegarmos a casa
e amarmos o resto do dia
(ou da vida)

texto com caminho (parte 2)


cartier-bresson
partilhado por danielsg.

um caminho é assim:

teremos pela frente o tempo
acompanhando o nosso sonho

e o cansaço espreitando
como árvores altíssimas
ao longo da distância

e se o amor bastar
nem uma sombra
nos há-de ferir

com título por revelar


coração
partilhado por danielsg.

um coração riscado no coração da noite
entre o silêncio das estrelas que sonham
entre os espaços que ficam por revelar

um coração riscado no carinho das nossas mãos
como se inventássemos outras palavras
para desvendar os afectos que atamos
a cada abaraço que tecemos juntos

um coração riscado em nossos corações
como um sinal de que o amor tem forma
para nos lembrar que existimos um no outro

10 de junho de 2006

silêncio com ansel adams


ansel adams
partilhado por danielsg.

o medo de te perder
é como o inverno parado
numa árvore

o silêncio que se apodera
da respiração

e adia a a primavera

uma borboleta no coração da vida


farfala
partilhado por danielsg.

se fores borboleta
protego-te assim

flor a flor
sobre a tua pele

deixando a manhã presa
sobre nós

até se repetir outra vez
a primavera

entrada para a música


casa da música (da sílvia)
partilhado por danielsg.

a música tem sempre uma entrada
à porta do coração do silêncio

em mim abre-se um clarão
pontualmente ao fim da tarde

ontem: enquanto tudo se adormecia
dentro de casa

billie holiday deu-me as mãos
e fez-me dançar três instantes

sem título (no entanto com água)


fonte em bravães
partilhado por danielsg.

há fontes que nunca secam
há fontes que sabem a água
toda do mundo

há fontes que são como o
coração deste amor

quando procura um carinho
encontra um pomar de carinhos

quando procura um afecto
encontra um mar de afectos

quando tem sede
olha para ti