a amizade é este vazio
a água que não cabe na mão
o silêncio que habita o fim da tarde
a amizade é este peso no coração
o sorriso do tamanho do mundo
que carregamos sempre connosco
para vós: queridas e queridos alunos ca CCIPDVP neste dia de despedida
21 de fevereiro de 2006
19 de fevereiro de 2006
detalhes do tempo
a cal desgastou-se
com a pressa do tempo
e deixou as formas
da espera
a saudade como o espírito de uma hera
impossivelmente transparente
com a pressa do tempo
e deixou as formas
da espera
a saudade como o espírito de uma hera
impossivelmente transparente
17 de fevereiro de 2006
estás tão perto
que caminhas sobre mim
estás tão perto
que a música cresce entre os meus dedos
estás tão rente à minha respiração
que abres a concha dos meus sonhos
estás tão perto
que já nem ouço o meu coração
tão perto tão perto
que acordas dentro do meu olhar
estás tão rente a este dizer
que és a pele cobrindo as palavras
tão rente tão rente
que nunca mais te posso perder
estás tão perto tão rente
que quase vivo dentro de ti
15 de fevereiro de 2006
14 de fevereiro de 2006
lenço de namorados
o amor como um gesto mínimo
perdido na respiração
da vida
o amor como um corpo
que se move entre as teias da eternidade
procurando um lugar
para adoçar a felicidade
perdido na respiração
da vida
o amor como um corpo
que se move entre as teias da eternidade
procurando um lugar
para adoçar a felicidade
gira gira sol
Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a namorada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
És como o verde do trigal maduro
Teus olhos têm a cor do firmamento
Céu castanho da tarde – são teus olhos!
Teu passo arrasta a doce poesia
Do amor! prende o poema em forma e cor
No espaço; para o astro do poente
És o levante, és o Sol! eu sou o gira
O gira, o girassol. És a soberba
Também, a jovem rosa purpurina
És rápida também, como a andorinha!
Doçura! lisa e murmurante... a água
Que corre no chão morno da montanha
És tu; tens muitas emoções; o pássaro
Do trópico inventou teu meigo nome
Duas vezes, de súbito encantado!
Dona do meu amor! sede constante
Do meu corpo de homem! melodia
Da minha poesia extraordinária!
Por que me arrastas? Por que me fascinas?
Por que me ensinas a morrer? teu sonho
Me leva o verso à sombra e à claridade.
Sou teu irmão, és minha irmã; padeço
De ti, sou teu cantor humilde e terno
Teu silêncio, teu trêmulo sossego
Triste, onde se arrastam nostalgias
Melancólicas, ah, tão melancólicas...
Amiga, entra de súbito, pergunta
Por mim, se eu continuo a amar-te; ri
Esse riso que é tosse de ternura
Carrega-me em teu seio, louca! sinto
A infância em teu amor! cresçamos juntos
Como se fora agora, e sempre; demos
Nomes graves às coisas impossíveis
Recriemos a mágica do sonho
Lânguida! ah, que o destino nada pode
Contra esse teu langor; és o penúltimo
Lirismo! encosta a tua face fresca
Sobre o meu peito nu, ouves? é cedo
Quanto mais tarde for, mais cedo! a calma
É o último suspiro da poesia
O mar é nosso, a rosa tem seu nome
E recende mais pura ao seu chamado.
Julieta! Carlota! Beatriz!
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.
Vinicius de Moraes
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a namorada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
És como o verde do trigal maduro
Teus olhos têm a cor do firmamento
Céu castanho da tarde – são teus olhos!
Teu passo arrasta a doce poesia
Do amor! prende o poema em forma e cor
No espaço; para o astro do poente
És o levante, és o Sol! eu sou o gira
O gira, o girassol. És a soberba
Também, a jovem rosa purpurina
És rápida também, como a andorinha!
Doçura! lisa e murmurante... a água
Que corre no chão morno da montanha
És tu; tens muitas emoções; o pássaro
Do trópico inventou teu meigo nome
Duas vezes, de súbito encantado!
Dona do meu amor! sede constante
Do meu corpo de homem! melodia
Da minha poesia extraordinária!
Por que me arrastas? Por que me fascinas?
Por que me ensinas a morrer? teu sonho
Me leva o verso à sombra e à claridade.
Sou teu irmão, és minha irmã; padeço
De ti, sou teu cantor humilde e terno
Teu silêncio, teu trêmulo sossego
Triste, onde se arrastam nostalgias
Melancólicas, ah, tão melancólicas...
Amiga, entra de súbito, pergunta
Por mim, se eu continuo a amar-te; ri
Esse riso que é tosse de ternura
Carrega-me em teu seio, louca! sinto
A infância em teu amor! cresçamos juntos
Como se fora agora, e sempre; demos
Nomes graves às coisas impossíveis
Recriemos a mágica do sonho
Lânguida! ah, que o destino nada pode
Contra esse teu langor; és o penúltimo
Lirismo! encosta a tua face fresca
Sobre o meu peito nu, ouves? é cedo
Quanto mais tarde for, mais cedo! a calma
É o último suspiro da poesia
O mar é nosso, a rosa tem seu nome
E recende mais pura ao seu chamado.
Julieta! Carlota! Beatriz!
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.
Vinicius de Moraes
borboletazul
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
10 de fevereiro de 2006
6 de fevereiro de 2006
raindrops from heaven
a chuva cai em mim
e soa como uma carícia
perdida no tempo
sei que me adora o rosto
como uma mão um dia
me moldou esta boca
e soa como uma carícia
perdida no tempo
sei que me adora o rosto
como uma mão um dia
me moldou esta boca
movimentos perpétuos
vais ver
que a chuva traz
movimentos perpétuos
no coração da viagem
a eternidade do tempo que se repete
inverno após inverno
para o vermos
atentamente
com uma chavená de chá
que a chuva traz
movimentos perpétuos
no coração da viagem
a eternidade do tempo que se repete
inverno após inverno
para o vermos
atentamente
com uma chavená de chá
3 de fevereiro de 2006
outra vez (os detalhes)
outra vez os detalhes
escapando entre os dedos
como gotas de chuva
um olhar atado à tristeza
tecendo a palavra
com que chora
escapando entre os dedos
como gotas de chuva
um olhar atado à tristeza
tecendo a palavra
com que chora
2 de fevereiro de 2006
milhafre na chaminé
um milhafre na chaminé:
a perfeita serenidade
do fim da tarde
com o silêncio da paz
acompanhando
o cansaço a casa
a perfeita serenidade
do fim da tarde
com o silêncio da paz
acompanhando
o cansaço a casa
porta de entrada
na casa da malbusca
há um lugar à mesa
da amizade
na casa da malbusca
as portas são o abraço
que se estende
e as janelas
o olhar que espera
atentamente
pelo amigo
há um lugar à mesa
da amizade
na casa da malbusca
as portas são o abraço
que se estende
e as janelas
o olhar que espera
atentamente
pelo amigo
flor sem nome (ainda)
esta flor não tem nome
não sei como chamá-la
agora que saiu do seu coração
enovelado de orvalho
não sei como chamá-la
agora que saiu do seu coração
enovelado de orvalho
PEACH TREE (do Rufus Wainwright)
Is true love a trip to Chinatown
Or being held in one's opium gaze
Under the peach trees
There I'll sit and wait
Is true love a long walk through Bryant park
Or being held in the month of May
under the peach trees
There I will be, will be until you come and get me
Cause I'm so tired of waiting in restaurants
reading the critics and comics alone
With a waiter with a face made for currency
Like a coin in ancient Rome
And I really do wish you were here next to me
cause I'm going to see James Dean
There I will be
Under the peach trees with him
- foi só para partilhar
uma música que me faz
;(
Or being held in one's opium gaze
Under the peach trees
There I'll sit and wait
Is true love a long walk through Bryant park
Or being held in the month of May
under the peach trees
There I will be, will be until you come and get me
Cause I'm so tired of waiting in restaurants
reading the critics and comics alone
With a waiter with a face made for currency
Like a coin in ancient Rome
And I really do wish you were here next to me
cause I'm going to see James Dean
There I will be
Under the peach trees with him
- foi só para partilhar
uma música que me faz
;(
sebastião
au au
au au au
au au au au
au
au
au
(isto foi o que ele me disse
quando lhe apareci com a vassoura na mão:
eram três da manhã
e ninguém dormia na aldeia)
au au au
au au au au
au
au
au
(isto foi o que ele me disse
quando lhe apareci com a vassoura na mão:
eram três da manhã
e ninguém dormia na aldeia)
praia ao amanhecer
é aqui que me sento
a ver crescer a manhã
à espera
(sempre à espera)
que chegue a primavera
a ver crescer a manhã
à espera
(sempre à espera)
que chegue a primavera
issa kobayashi para a ariana
Em vão o menino tentava
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
[é (digo eu) como tentarmos segurar a memória da nossa infância
é bem mais fácil
abraçarmos os amigos desse tempo
perdidos ou achados
na velocidade dos dias]
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
[é (digo eu) como tentarmos segurar a memória da nossa infância
é bem mais fácil
abraçarmos os amigos desse tempo
perdidos ou achados
na velocidade dos dias]
rosas para a norma
rosas para ti
como as que ricardo reis
contemplava
com a fina tristeza (escondida)
de saber que o tempo passa
e nada fica igual
rosas para ti
como um pensamento feliz
ou um abraço
que entre a distância e o não saber-te o rosto
é o mínimo carinho
que sobrevive
a este inverno
como as que ricardo reis
contemplava
com a fina tristeza (escondida)
de saber que o tempo passa
e nada fica igual
rosas para ti
como um pensamento feliz
ou um abraço
que entre a distância e o não saber-te o rosto
é o mínimo carinho
que sobrevive
a este inverno
sunflowers by van gogh
há dias que não se esquecem
como coisas belas
que se prendem
ao tear da eternidade
dando-nos a fina seda
da ternura
no profundo silêncio
dos dias
(parabéns)
como coisas belas
que se prendem
ao tear da eternidade
dando-nos a fina seda
da ternura
no profundo silêncio
dos dias
(parabéns)
1 de fevereiro de 2006
no pormenor está o rosto da intimidade
olha os pormenores das coisas
a intimidade à flor da pele
das coisas
as que amamos ou as que guardamos
junto do coração
como pequenos entes enamorados
de ternura
pequenos entes que nos falam
da respiração que dedicamos
a cada gesto
no pormenor está o rosto da intimidade
a porta aberta para a voz
do silêncio
o poema que sabemos ser o nome
da nossa alma
(versos com imagem de joão ribeiro)
a intimidade à flor da pele
das coisas
as que amamos ou as que guardamos
junto do coração
como pequenos entes enamorados
de ternura
pequenos entes que nos falam
da respiração que dedicamos
a cada gesto
no pormenor está o rosto da intimidade
a porta aberta para a voz
do silêncio
o poema que sabemos ser o nome
da nossa alma
(versos com imagem de joão ribeiro)
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