atravesso contigo a imensidão incandescente da tarde
o itinerário oscilante dos pássaros em seu silvo branco
na torrente da sombra sentimos a infelicidade do silêncio
a pele encarcerada das pedras a resistência do tempo
transcorremos as searas até à desmesura da infância
recolhemos a eternidade uma colina para atar a paz
as palavras submersas na cintilação do esquecimento
no teu rosto o vago rumor da tristeza inicia uma flor
um canal pacífico para a delicadeza do firmamento
como se as asas do inverno perdessem a corrente
e houvesse uma hora para chamar de novo o amor
podemos purificar a errância da sede a cor do olhar
trazer uma sílaba de luz à coleante brevidade da vida
e só temos que nos abraçar deixar o coração morrer
para escutarmos a primeiríssima constelação da noite
um poema de "o afecto das palavras"
30 de março de 2006
26 de março de 2006
22 de março de 2006
DEDICADO AOS VISITANTES DESTE VERSÁRIO
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com os teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com os teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
Sophia de Mello Breyner Andresen
21 de março de 2006
17 de março de 2006
título sem título
une-me ao teu sonho vertical
prende-me às palavras
com que respiras a altura do dia
deixa-me ficar rente às tuas asas
enquanto esperas por mim
prende-me às palavras
com que respiras a altura do dia
deixa-me ficar rente às tuas asas
enquanto esperas por mim
14 de março de 2006
sonho com chuva
a noite começa com o rasto do dia
preso ao cansaço
que ainda não chegou a casa
(chove lentamente como as primeiras
formas do sonho)
mais adiante a escuridão será confortável
sob os lençóis invioláveis do descanso
preso ao cansaço
que ainda não chegou a casa
(chove lentamente como as primeiras
formas do sonho)
mais adiante a escuridão será confortável
sob os lençóis invioláveis do descanso
10 de março de 2006
8 de março de 2006
chaminé como boca
a chaminé como uma boca
entre as faias
respira a manhã
para dentro das nossas primeiríssimas
palavras
entre as faias
respira a manhã
para dentro das nossas primeiríssimas
palavras
6 de março de 2006
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha
na luz que
procura o outro lado do horizonte
na fragilidade
do tempo
que escorre com
o silêncio do nosso caminho
nesse instante
em que o mundo
parece somente o
lugar donde nos vemos
sem sombra que
nos prolongue
nem voz que nos
ecoe
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha
é esse o
mistério que deixamos para mais tarde dissolver
não um nome como
uma concreta pedra
pesando o seu
significado
mas uma flor a
quem não importa a palavra
por ter na sua
ideia a mais alta cor do mundo
por conter a
doçura intacta da pureza
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha
e é um contorno
breve de uma ternura que nos espera
tão perto tão
acessível tão formosa
como a manhã que
se seguirá
para nos lembrar
que o nosso corpo pesa
porque deixamos a
tristeza ocupar o seu espaço
e prolongamos
dentro de nós o ruído do cansaço
ao anoitecer vê-se o nome da ilha
reparemos
está lá como um coração
pulsando o primeiro beijo
vê-se o nome da ilha
na luz que
procura o outro lado do horizonte
na fragilidade
do tempo
que escorre com
o silêncio do nosso caminho
nesse instante
em que o mundo
parece somente o
lugar donde nos vemos
sem sombra que
nos prolongue
nem voz que nos
ecoe
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha
é esse o
mistério que deixamos para mais tarde dissolver
não um nome como
uma concreta pedra
pesando o seu
significado
mas uma flor a
quem não importa a palavra
por ter na sua
ideia a mais alta cor do mundo
por conter a
doçura intacta da pureza
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha
e é um contorno
breve de uma ternura que nos espera
tão perto tão
acessível tão formosa
como a manhã que
se seguirá
para nos lembrar
que o nosso corpo pesa
porque deixamos a
tristeza ocupar o seu espaço
e prolongamos
dentro de nós o ruído do cansaço
ao anoitecer vê-se o nome da ilha
reparemos
está lá como um coração
pulsando o primeiro beijo
5 de março de 2006
1 de março de 2006
neve na peneda
ao longe a neve
ao perto esse frio
quase transparente
e assim se faz
uma viagem à infância
soletrada em cada passo
deste dia
ao perto esse frio
quase transparente
e assim se faz
uma viagem à infância
soletrada em cada passo
deste dia
Subscrever:
Mensagens (Atom)