atravesso contigo a imensidão incandescente da tarde
o itinerário oscilante dos pássaros em seu silvo branco
na torrente da sombra sentimos a infelicidade do silêncio
a pele encarcerada das pedras a resistência do tempo
transcorremos as searas até à desmesura da infância
recolhemos a eternidade uma colina para atar a paz
as palavras submersas na cintilação do esquecimento
no teu rosto o vago rumor da tristeza inicia uma flor
um canal pacífico para a delicadeza do firmamento
como se as asas do inverno perdessem a corrente
e houvesse uma hora para chamar de novo o amor
podemos purificar a errância da sede a cor do olhar
trazer uma sílaba de luz à coleante brevidade da vida
e só temos que nos abraçar deixar o coração morrer
para escutarmos a primeiríssima constelação da noite
um poema de "o afecto das palavras"
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