poemário (2003-2010)
24 de abril de 2006
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa
Sophia de Melo Breyner Andresen
23 de abril de 2006
sem título
dobradiça
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abrir-me-ás
a porta do coração?
a fé das sombras
santinhos
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na sombra que toca todas as coisas
deste mundo
haverá a orla intocável de deus
anunciando a presença
do infinito
a eternidade devolvida aos homens
ou a fé entrecortada
na oração do tempo
luz divina (altar em bravães)
luz
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e deus pode não ser mais que isto:
a luz da manhã
cortando a rosácea do tempo
e manchando de paz
o linho do altar
para beber um carinho
água de fonte
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dou-nos este momento
para saciarmos a nossa sede
pelas nossas mãos tomaremos
o rosto da fonte
e nesse instante o carinho
que desconhecíamos
há-de entrar em nossas bocas
para a norma e para o nélson
detalhes de luz em bravães (sol de abril)
bravães
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da terra sobe a luz
ao sinal de deus
transparência do tempo
transparência do tempo
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o olhar do tempo
é composto de transparências
tecidos que se sobrepõem
ao nada que somos
escrita
escrita
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um poema que eu rasgasse
na pele do tempo
inscrito nos poros
da pedra que nos vigia
o envelhecer das mãos
luz oscilante (mosteiro de bravães)
luz oscilante
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se alma é etérea
há-de oscilar
na contradança da luz
no interior do coração do silêncio
como uma lamparina
de sonhos
soprando a forma das asas
dos anjos que virão
mostrar o rosto de deus
16 de abril de 2006
gato que dorme na rua
gato que dorme na rua
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o gato estende-se no seu banco
vendo a tarde girar sobre si
tudo lhe passa tão levemente
que nem uma palavra
rasgada de uma pedra
o assusta
é por isso que é feliz e há poetas
que falam disso
viola esperando
viola esperando
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sou como a viola da terra
na oficina do violeiro
esperando a sua vez
para ganhar asas
e soprar música de dentro de mim
preciso das tuas mãos
dream or cream?
dream or cream?
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sonho ou doçura?
que asa te dar
ó doce anjo
do meu sonhar?
chuva dissolvente
chuva dissolvente
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como numa música que vem de longe
esta chuva dissolvente
atrasa o sorriso do dia
6 de abril de 2006
reflexágua
reflexágua
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na água a minha estrela
parece a mão
com a alma resplandecente da poesia
acenando ao silêncio
5 de abril de 2006
reflexo
reflexo
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o céu entrou-me dentro de casa
deixando no vidro o seu rosto
onde repousa agora a minha viagem
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