(porta aberta para revolutionary road)
o que queres que a tua vida seja?
que casa queres habitar
e que aniversário prender na correnteza do tempo
que imagem de ti que abraço que sonho?
o que podes desejar se tens à tua frente
todos os sonhos possíveis
expostos como as folhas que caem
porque o outono arrefece o coração das árvores?
o que queres que a tua vida seja?
um desenho numa folha branca
uma porção de luz salvando a noite do vazio
um caminho que se faz desligando o olhar?
o que podes desejar se tens à tua frente
precisamente aquilo que foste buscar à terra
a mesma oração com que sagraste a casa
os filhos que tomaste do silêncio?
o que queres que a tua vida seja?
achas que podes desligar o peso de deus nestas coisas
que não há anjos te guiando o precipício
puxando para trás soprando-te para a frente?
o que podes desejar se tens à tua frente
o peso da morte com o peso do esquecimento
lembrando-te o poema com que acordas
a respiração que te faz quem és?
o que queres que a tua vida seja?
não tens outra não há outra
só esta que já é menos a cada instante
à espera que aproveites o que te é dado
e deseja então não mais que o que já tens
as desgraças todas e mais as dos outros
o mundo tal como ele é
onde todo o amor é possível