30 de novembro de 2010
28 de novembro de 2010
26 de novembro de 2010
veneza, à noite (depois de o mundo acabar)
estamos à espera
que a noite se arredonde
somos dois pássaros
sem vontade de voar
por isso caminhamos lentamente
através das ruas
subindo às janelas
com a água refulgente
do chão
adivinhando a música
da esquina seguinte
uma valsa de silêncio
acompanhando as histórias
das nossas vidas
e vemos que não somos assim
tão diferentes
cada um de nós
chorou já a sua porção
de tristeza
cada um de nós
conhece já este mundo
que podia acabar agora
e deixar-nos esta cidade
só para nós
23 de novembro de 2010
22 de novembro de 2010
vivaldi at chiesa san giacometto with laetitia and karin
some say music comes from
heaven
some say angels inspire
light into violins and cellos
and violas
and then they start to
spread sound as poetry
but you know well
music comes from
hands on fire
hands on silky tenderness
hands floating and catching
the perfect harmony of art
hands keeping safe from harm
our dreams and our
hearts
18 de novembro de 2010
(Veneza, em lá estando)
nada do que dizem pode ser verdade
porque a verdade flutua e muda
conforme olhamos
a cidade
e se é tudo água
todo o resto é água também
não porque chove
ou porque o grande canal
amansa as horas
é porque a ausência de ruído
acalma e acaricia
conforta e aproxima
até não querermos mais estar sós
e abraçar a primeira pessoa que vemos
15 de novembro de 2010
VENEZA (antes de lá ter estado)
parece-me plana
com altos cumes de luz
invadindo o rosto da manhã
parece-me serena
com ondulação de música antiga
flutuando todas as pessoas
até não serem mais que poemas
boiando no grande canal
parece-me mulher
una donna
olhando-me com uma boca doce
e o corpo carregado de água
11 de novembro de 2010
10 de novembro de 2010
enquanto ouvíamos um disco de frank sinatra
deixamos tudo por fazer
ficamos sentados a abrir uma página em branco
no nosso tempo
e depois olhá-la como quem espera desenhar
toda uma vida
com todas as correcções
e com todas as coisas que julgamos
ser fundamentais
nós os dois e uma música
leve
leve
leve
i got a woman crazy for me
she's funny that way
6 de novembro de 2010
3 de novembro de 2010
faço o filme na palma da minha mão e trago para junto de mim
um piano com yann thiersen
a música é suave flutuarejante redonda
estou à tua espera
e aperto o meu coração para não te amar demais
chegas a entristecer aos bocados
(nunca quiseste ser triste à minha
beira)
pergunto-te como é possível
teres o coração tão apressado
se voas como um pássaro delicado
numa folha de papel
choras-me em silêncio o relógio que perdeste
(era nele que vias o tempo
de estarmos perto)
tinha matrioscas
e assim como assim
um tempo secreto dentro do nosso tempo secreto
tinha matrioscas que se iam enroscando
até não termos de pensar no amanhã
mas perdeste esse relógio
e eu não pude fazer nada
mesmo que anos depois
continue a ir de marcha a ré
procurando pelo chão o tiquetaque que perdemos
não volta ao teu pulso
nem a tua mão à minha
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