4 de junho de 2006

versos com brassaï


brassai lovers in bistro
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o que vês nesta fotografia?

eu vejo as mãos entrelaçadas
os afectos entretecidos
na respiração do abraço

versos com eliot porter


eliot porter pool
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a luz pode indicar-nos a casa
a resplandecente forma dos sonhos

passando como um curso de água
rasgando pelo meio a respiração do outono

uma luz que traz o peso do céu
a alma dos anjos presa (ainda) ao espírito da manhã

uma luz que sabe o instante em que vivemos
o instante em que abrimos as mãos
à dadiva dos nossos sentidos

e percebemos como tudo é tão belo
quanto mais soubermos escutar
as primeiras coisas (ou uma simples
fotografia do mundo)

do afecto das palavras


jhon gutmann apology
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tenho os afectos presos às asas das palavras
afectos enchendo de água o coração das palavras

tenho os afectos atados à inviolável sede das palavras
porque quero dizer (preciso dizer) que te amo

com cartier bresson (parte 2)


cartier bresson
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se o amor não é vão
se o amor é o coração

se o amor é isto:
então existo

com cartier bresson (parte 1)


cartier bresson
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em paris qualquer beijo é livre
o amor despe-se nas esplanadas
e sente o ar fresco das pessoas que passam

1 de junho de 2006

detalhe


spiderweb
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no detalhe encontras o meu amor
preso às asas da borboleta

para ser livre e leve como ela
bordado no tecido do tempo

para ser eterno

maquinaroyal


maquinaroyal
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todo os dias
pontualmente o cansaço
inventa uma rosa
para o caminho de quem amas

31 de maio de 2006

no chevrolet a caminho de...


chevrolet
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no chevrolet a caminho do casamento da minha irmã
vai meu pai com o sorriso de quem comanda o mundo

e as rodas pesadas do tempo confirmam a ternura
com que se guiam todos os pensamentos

uma leve borboleta


images
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um sorriso
pesa tanto como
uma borboleta?

29 de maio de 2006

o beijo de gustav klimt


o beijo de gustav klimt
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quem sabe os contornos
deste beijo?

a alada sede de ser feliz
e viver a vida num só instante

como qualquer beijo
na primeira vez que adoça o coração

na primeira vez que abre o caminho
para o amor deixar de ser uma palavra

e desatar a água com que as mãos
hão-de tecer o tempo do carinho

28 de maio de 2006

versos com chagall (parte 3)


chagall
origem danielsg.
se voarmos esta noite
se encontrarmos o nosso lugar
dentro do nosso sonho

as nossas palavras não serão precisas
nem os nossos silêncios
nem as nossas portas entreabertas

tudo o que ataremos em nossas mãos
serão as pinceladas felizes do amor

(o amor que nem tem que ser doce
como os frutos sobrevivendo ao fim do verão)

encantamento vesperal

se o nosso abraço acontecesse
primeiro que nós

o tempo (na sua casa mágica)
marcaria com tons de azul

os primeiros sonhos
os contornos tirados ao mar do desejo

versos com chagall (parte 1)


primavera na pradaria
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a primeira noite da primavera
arde somente

no coração ansioso
dos amantes

26 de maio de 2006

episódios com van gogh (parte 3)


Lilazes de Van Gogh
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havemos de passear nesse caminho
onde van gogh pinta (ainda)
os nossos liláses

ao passar pela sua desatenção
dir-lhe-emos
como ficava bem (se ficava)
nunca acabar o quadro

episódios com van gogh (parte 2)


Amendoeira de Van Gogh
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de onde estou
todo o mundo não é mais
que este mar redondo

nesta casa (defronte à janela do meu quarto)
faz falta uma amendoeira

pondo embarcações (floridas)
no azul profundo

episódios com van gogh (parte 1)


Vaso com Girassois de Van Gogh
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esses girassois revivem o verão
no coração da casa

esses girassois é que sabem
o sentido exacto da luz

e entre o fim da tarde e a manhã
são eles que entrelaçam
as sombras que ficam por dizer

abraço para o internauta desconhecido

do fundo do meu coração
agradeço a todos
a visita a este versário

25 de maio de 2006





vi malmequeres onde só esperava ver
os despojos do fogo

vi outros malmequeres que não são malmequeres
outras flores que não há em mais berço algum

refulgirem ao peso da luz
tão mais próximas do céu
que qualquer (outra) rosa

roseirarco


roseirarco
Originally uploaded by danielsg.
a noite apetece vestir
como um roseiral de água

23 de maio de 2006

à tua espera


cadeiras na foz
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olho deste lado da duna
as cadeiras que nos esperam
ao fim da tarde

e essa luz vai oscilando
entretanto

(chegaremos a tempo?)

22 de maio de 2006

COM O PESO DO MUNDO


capitel em bravães
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com o peso do mundo
posso eu bem

às vezes dou por mim
e trago a primavera aos ombros

as asas todas dos dias amanhecentes
as cores de todas as coisas
que se ama

difícil é carregar as plumas
da tristeza (de um ou outro
silêncio sem sentido)

fresco em bravães


fresco em bravães
Originally uploaded by danielsg.
uma textura que revela
um sonho

um sonho de água
para um deus tranquilo

floral granito


floral granito
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o granito guarda o tempo
dentro do seu coração

bordando tão docemente
as heras da vida

como nós:
num olhar atento

a um detalhe de pedra

18 de maio de 2006

dupla fechadura


dupla fechadura
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sou eu essa porta que se atravessa entre nós
entre duas casas que ainda há pouco
comunicavam pela mesma sala

sou eu essa fechadura que parou para pensar
se abre ou fecha a boca das palavras
se ata ou desata a chave do coração

sou eu esse movimento que oscila no vazio do silêncio
nem rangendo sequer o tempo preso às dobradiças
de todos os gestos que já tecemos juntos

17 de maio de 2006

água mínima


orvalho
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uma água mínima
nascente

refulgente das primeiras palavras
da manhã

sobre a pele mais delicada
da natureza:

o orvalho (palavra demasiado pesada
para essa delicadeza)

16 de maio de 2006

drago em la laguna


drago
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puxando o sangue da terra
o mito da vida e da morte

para o castigo dos mortais?

4 de maio de 2006

24 de abril de 2006

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
 
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa


Sophia de Melo Breyner Andresen

23 de abril de 2006

sem título


dobradiça
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abrir-me-ás
a porta do coração?

a fé das sombras


santinhos
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na sombra que toca todas as coisas
deste mundo

haverá a orla intocável de deus
anunciando a presença
do infinito

a eternidade devolvida aos homens
ou a fé entrecortada
na oração do tempo

luz divina (altar em bravães)


luz
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e deus pode não ser mais que isto:
a luz da manhã
cortando a rosácea do tempo

e manchando de paz
o linho do altar

para beber um carinho


água de fonte
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dou-nos este momento
para saciarmos a nossa sede

pelas nossas mãos tomaremos
o rosto da fonte

e nesse instante o carinho
que desconhecíamos
há-de entrar em nossas bocas


para a norma e para o nélson

detalhes de luz em bravães (sol de abril)


bravães
Originally uploaded by danielsg.
da terra sobe a luz
ao sinal de deus

transparência do tempo


transparência do tempo
Originally uploaded by danielsg.
o olhar do tempo
é composto de transparências

tecidos que se sobrepõem
ao nada que somos

escrita


escrita
Originally uploaded by danielsg.
um poema que eu rasgasse
na pele do tempo

inscrito nos poros
da pedra que nos vigia
o envelhecer das mãos

luz oscilante (mosteiro de bravães)


luz oscilante
Originally uploaded by danielsg.
se alma é etérea
há-de oscilar
na contradança da luz

no interior do coração do silêncio
como uma lamparina
de sonhos

soprando a forma das asas
dos anjos que virão
mostrar o rosto de deus

16 de abril de 2006

gato que dorme na rua


gato que dorme na rua
Originally uploaded by danielsg.
o gato estende-se no seu banco
vendo a tarde girar sobre si

tudo lhe passa tão levemente
que nem uma palavra
rasgada de uma pedra
o assusta

é por isso que é feliz e há poetas
que falam disso

viola esperando


viola esperando
Originally uploaded by danielsg.
sou como a viola da terra
na oficina do violeiro
esperando a sua vez

para ganhar asas
e soprar música de dentro de mim
preciso das tuas mãos

dream or cream?


dream or cream?
Originally uploaded by danielsg.
sonho ou doçura?

que asa te dar
ó doce anjo
do meu sonhar?

chuva dissolvente


chuva dissolvente
Originally uploaded by danielsg.
como numa música que vem de longe
esta chuva dissolvente
atrasa o sorriso do dia

6 de abril de 2006

reflexágua


reflexágua
Originally uploaded by danielsg.
na água a minha estrela
parece a mão

com a alma resplandecente da poesia

acenando ao silêncio

5 de abril de 2006

reflexo


reflexo
Originally uploaded by danielsg.
o céu entrou-me dentro de casa
deixando no vidro o seu rosto
onde repousa agora a minha viagem

30 de março de 2006

atravesso contigo a imensidão incandescente da tarde
o itinerário oscilante dos pássaros em seu silvo branco

na torrente da sombra sentimos a infelicidade do silêncio
a pele encarcerada das pedras a resistência do tempo

transcorremos as searas até à desmesura da infância
recolhemos a eternidade uma colina para atar a paz
as palavras submersas na cintilação do esquecimento

no teu rosto o vago rumor da tristeza inicia uma flor
um canal pacífico para a delicadeza do firmamento
como se as asas do inverno perdessem a corrente
e houvesse uma hora para chamar de novo o amor

podemos purificar a errância da sede a cor do olhar
trazer uma sílaba de luz à coleante brevidade da vida

e só temos que nos abraçar deixar o coração morrer
para escutarmos a primeiríssima constelação da noite


um poema de "o afecto das palavras"

26 de março de 2006

alguma coisa arrefece dentro das minhas mãos
alguma coisa que ficou por dizer
ou um abraço por construir

e assim se tece a filigrana
do silêncio

22 de março de 2006

DEDICADO AOS VISITANTES DESTE VERSÁRIO

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com os teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

21 de março de 2006

apesar do frio nenhuma estrela pode ser mais bela
em dezembro o mar represando a última lua cheia


poema de "o tempo mais breve"
o rumor do dia traz-nos as flores pelas janelas da
casa

em breve todas as sombras escutarão o gosto da terra



poema de "o tempo mais breve"
para a borboleta o mundo não tem fim
só o tempo lhe pode arrancar uma asa

17 de março de 2006

título sem título


união
Originally uploaded by danielsg.
une-me ao teu sonho vertical
prende-me às palavras
com que respiras a altura do dia

deixa-me ficar rente às tuas asas
enquanto esperas por mim

14 de março de 2006

sonho com chuva


sonho com chuva
Originally uploaded by danielsg.
a noite começa com o rasto do dia
preso ao cansaço
que ainda não chegou a casa

(chove lentamente como as primeiras
formas do sonho)

mais adiante a escuridão será confortável
sob os lençóis invioláveis do descanso

8 de março de 2006

chaminé como boca


chaminé
Originally uploaded by danielsg.
a chaminé como uma boca
entre as faias

respira a manhã
para dentro das nossas primeiríssimas
palavras

6 de março de 2006

ao anoitecer
vê-se o nome da ilha

na luz que
procura o outro lado do horizonte

na fragilidade
do tempo

que escorre com
o silêncio do nosso caminho

 
nesse instante
em que o mundo

parece somente o
lugar donde nos vemos

sem sombra que
nos prolongue

nem voz que nos
ecoe

 
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha

é esse o
mistério que deixamos para mais tarde dissolver

não um nome como
uma concreta pedra

pesando o seu
significado

mas uma flor a
quem não importa a palavra

por ter na sua
ideia a mais alta cor do mundo

por conter a
doçura intacta da pureza

 
ao anoitecer
vê-se o nome da ilha

e é um contorno
breve de uma ternura que nos espera

tão perto tão
acessível tão formosa

como a manhã que
se seguirá

 
para nos lembrar
que o nosso corpo pesa

porque deixamos a
tristeza ocupar o seu espaço

e prolongamos
dentro de nós o ruído do cansaço

 
ao anoitecer vê-se o nome da ilha
reparemos
está lá como um coração
pulsando o primeiro beijo
é uma música branca
uma música caiada de água
 
o silêncio que se ouve
através das asas do poema
 
é uma música dolente
uma música pesada de chuva
 
a tristeza que se agarra
ao rosto da mãe cansada
o último voo das aves
leva a mão do poeta
 
o último voo das aves
há-de parecer azul
no fundo triste da noite
 
o último voo das aves
é o caminho que arde
quando a vida nos tira
o último sopro da morte

1 de março de 2006

neve na peneda


neve na peneda
Originally uploaded by danielsg.
ao longe a neve
ao perto esse frio
quase transparente

e assim se faz
uma viagem à infância
soletrada em cada passo
deste dia