4 de fevereiro de 2009

(poema com mário cesariny: como uma canção desesperada)




estou a dizer-te que já todos os poetas inventaram o amor
que nas minhas mãos o amor é apenas silêncio que vaza

que o amor não pode ser mais belo do que este verso:
antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa

estou a dizer-te que se tinha que te escrever uma carícia
nenhuma palavra há que não tenha quebrado já a sua asa

talvez acabes por perceber na doçura de todo este carinho
que não tenho mais música por onde possas subir até mim
ou madressilvas para te estenderes por todo o meu verão

estou a dizer-te que nunca soube dizer-te como te amar
como se regressasse a um instante em que fui apenas pedra
ou borboleta impassível colorindo o seu efémero coração

estou a dar-te à boca as poucas carícias que saem da minha
como se eu pudesse inventar um verso no lugar de um beijo
e talvez acreditasse que o amor tem sempre um novo aluvião




poema publicado na antologia OS DIAS DO AMOR - depois da generosidade da Inês Ramos

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