22 de fevereiro de 2009




(porta aberta para revolutionary road)



o que queres que a tua vida seja?
que casa queres habitar
e que aniversário prender na correnteza do tempo
que imagem de ti que abraço que sonho?

o que podes desejar se tens à tua frente
todos os sonhos possíveis
expostos como as folhas que caem
porque o outono arrefece o coração das árvores?

o que queres que a tua vida seja?
um desenho numa folha branca
uma porção de luz salvando a noite do vazio
um caminho que se faz desligando o olhar?

o que podes desejar se tens à tua frente
precisamente aquilo que foste buscar à terra
a mesma oração com que sagraste a casa
os filhos que tomaste do silêncio?

o que queres que a tua vida seja?
achas que podes desligar o peso de deus nestas coisas
que não há anjos te guiando o precipício
puxando para trás soprando-te para a frente?

o que podes desejar se tens à tua frente
o peso da morte com o peso do esquecimento
lembrando-te o poema com que acordas
a respiração que te faz quem és?

o que queres que a tua vida seja?
não tens outra não há outra
só esta que já é menos a cada instante
à espera que aproveites o que te é dado

e deseja então não mais que o que já tens
as desgraças todas e mais as dos outros
o mundo tal como ele é
onde todo o amor é possível


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