19 de fevereiro de 2010


ir ao musée d'orsay é colher um lenço enorme de seda
que nos cobre as lágrimas quando nos cortamos
ou nos dói a tristeza (a nossa ou a de alguém que nos
deu a mão para que a escutássemos - respirando com dificuldade
porque a ferida nasce no coração e sai pelos sete buracos da cabeça)

foi assim há dois verões: lembro-me como se fosse agora mesmo
o degas e os outros todos mas sobretudo o degas e as suas bailarinas
tão pequeninas tão rodopiantes tão vivas tão azuis

neste momento preciso tanto dessa memória alada
preciso que ela me ajude a aquecer este chá de tília
(o mesmo que tomavas quando resumias o lado mais infeliz da tua vida)

preciso que degas me acompanhe neste silêncio
e me murmure pelo menos uma palavra que aqueça este inverno

uma palavra que podia ser um movimento um perfume uma chama
uma palavra que coubesse na minha mão e te ajudasse a correr de novo
e se calhar conseguisse que o teu coração voltasse a ser grande
maior que o teu corpo inteiro

essa árvore com que chegas ao céu e ficas à procura dos teus anjos




PARA A AUGUSTA

2 comentários:

augusta disse...

Obrigada!

é lindo... lindo... lindo de morrer, Daniel...
e foi suspirado no dia dos anos da minha mãe...


pelos momentos mágicos da viagem em silêncio com teus Rumores... pelos instantes roubados a quem gostas na hora da despedida e guardados para mim... pelo chá, pela companhia, tua e das tuas duas flores... pela notícia em primeira mão do prémio acabado de ganhar...
Obrigada! em tempo de nuvens negras eu consegui ver o sol!

Aqui, do meu canto preferido, um beijo, também para as tuas duas, melhor, três flores...
e quem sabe eu tenha saúde e possa dizer, Até Leiria!

Anónimo disse...

Olá Daniel! Desculpa a ausência prolongada. Continuo a vir escutar os teus "suspiros". Apesar de eu própria já ter escrito em tempos uns poemitos, nunca consegui, se calhar por preguiça, alcançar o nível artístico dum verdadeiro poeta. Não me leves a mal, mas os teus poemas são tão doces, por vezes angelicais, que parecem não serem escritos nem por um homem, nem por uma mulher. Não sei que te dizer mais. Preciso de os ler para ser um pouco mais feliz, para sentir mais a beleza das coisas. um beijo grande. Ana Lamego.