luar micaelense
partilhado por danielsg.
vimos a noite espelhar o nosso amor
lá fora
tão fora de nós
nós que éramos o mesmo
corpo de amor
vimos a noite espelhar o nosso amor
lá fora
tão fora de nós
nós que éramos o mesmo
corpo de amor
um instante feliz (como num instante de cartier bresson)
um instante de luz preso à bicicleta que acorda a manhã
sou eu que me prendo à retina das coisas transparentes
sou que reconheço os contornos das primeiras coisas
é a mim que se atam os diademas das palavras felizes
é a mim que a poesia vem dizer onde está a tristeza
para não voltarmos a essa casa a essa colina de sede
desde que encontrei a tua boca reescrevendo o tempo
um tempo que não há noutro lugar nem noutro afecto
como se soubesses a exacta medida em que se ama
ou por que asa se erguem os carinhos sobre o amor
um instante feliz asilado no ventre das nossas mãos
como uma moeda para pagar a felicidade do mundo
um instante de luz que nos compense da escuridão
com que os sonhos se lançam para os nossos olhos
se o amor é uma palavra é um gerânio esperando a tarde
se o amor é uma palavra é uma casa acendendo as janelas
se o amor é uma palavra temos de lhe atar a nossa boca
e desenhar no seu coração a água que nos leva da terra
assim que percebemos a delicadeza dos nossos carinhos
quando sabemos que o horizonte se prende à nossa mão
e não há outro pensamento além do nosso sonho alado
quando ouvimos a respiração do tempo transpirar por nós
ou estamos parados num instante à espera da eternidade
quando olhamos para a nossa sombra nos dorso da noite
e não há outra asa para nos unirmos à constelação da paz
quando escutamos os pássaros trazendo a primeira manhã
com que nos olhamos depois de termos perdido o silêncio
o amor é uma palavra porque está à espera deste sopro
destes afectos deste caminho desta doçura deste carinho