31 de janeiro de 2007
se o amor é uma palavra é uma roseira esperando a tarde
se o amor é uma palavra é uma casa acordando as janelas
se o amor é uma palavra temos de lhe atar a nossa boca
e desenhar no seu coração a água que nos leva da terra
assim que percebemos a delicadeza dos nossos carinhos
quando sabemos que o horizonte se prende à nossa mão
e não há outro pensamento além do nosso sonho alado
quando ampliamos a sedição do tempo nos nossos ombros
ou estamos parados num instante à espera da eternidade
quando olhamos para a nossa sombra nos dorso da noite
e não há outra asa para nos unirmos à constelação da paz
quando sentimos os pássaros trazendo a primeira manhã
depois de termos amontoado as pedras do nosso cansaço
o amor é uma palavra porque está à espera deste carinho
deste arquipélago destas mãos deste sopro desta corrente
poema para JC
26 de janeiro de 2007
dez anos de solidão ou as horas todas desta vida de silêncio
para encontrar na profundeza da noite a cintilação da manhã
dez anos de solidão para silabar a poesia na luz das palavras
no mesmo carinho com que nos confiamos ao clarão do amor
dez anos de solidão com a boca atada ao cuidado da paz
com o corpo protegendo a delicada promissão do paraíso
com que cada verso se acende contra a inclinação do frio
dez anos de solidão para que me crescessem estas mãos
e houvesse buganvílias anulando a tristeza do fim da tarde
barcos com sonhos na proa e nas asas brancas das velas
levando ao último horizonte as pedras densas do cansaço
dez anos de solidão como uma casa erguida contra o tempo
onde cantasse a língua com as suas primaveras secretas
e fosse possível inventar um poema contra o esquecimento
ou o cume do inverno que é termos a morte à nossa espera
(para os que sabem o que é dez anos de solidão)
20 de janeiro de 2007
18 de janeiro de 2007
poema com manet
o frágil movimento de cor sobre um círculo de afectos
agora que a pele se dissolveu como uma voz à chuva
suspendendo na respiração as margens do firmamento
agora que a casa se musicou de um segredo inflamável
em cada imagem perfumada na doce seda das violetas
com a manhã crescendo no tear límpido de cada janela
toda esta maré desviada toda esta erosão desatenta
me parece agora tão nítida tão concreta tão pacífica
como se os gestos se adentrassem seguros no chão
escutando aquilo que achavam ser o pulso do tempo
agora que as palavras têm um carinho um rosto sereno
como os pássaros têm asas para um coração tão leve
acendo a pulsação transparente das pequenas coisas
e procuro o sonho a menina dos olhos do pensamento
15 de janeiro de 2007
verso(s) com foto de manuela vaz
todos os dias se dilui velozmente a madrugada
será assim tão escassa a luz nas nossas vidas?
5 de janeiro de 2007
poema de amor com instante de bresson
bresson
partilhado por danielsg.
tenho um poema de amor declinado nos meus olhos
como uma transparência que emerge deste silêncio
um poema de amor que fala das coisas mais pequenas
as coisas que esperam que lhes doemos a nossa boca
estou à espera que repares na forma como te escuto
ou como te toco ou como te sinto rente aos sentidos
ou como me movo entre a tua luz entre as tuas mãos
estou à espera que encontres o coração deste poema
e sintas nele a perfumada vereda dos nossos afectos
a casa com as suas janelas alinhadas com os gerânios
e toda a delicadeza de um sonho acordado como a cal
porque eu sei que temos um lugar onde o anoitecer
é outra forma de recolher uma folha pacífica ao tempo
porque és tu quem me pega no olhar ao amanhecer
e me recolhe as primeiras palavras o primeiro poema