22 de outubro de 2007





palavras para a apresentação do livro "dez anos de solidão" em santa maria


esta ilha é uma ilha de solidão mas não é a ilha da solidão
esta ilha é uma ilha de solidão quando olha o mar em sua volta
quando se fecha para dormir sobre a eternidade
quando se leva para fora no silêncio adocicado de quem parte

esta ilha é uma ilha de solidão porque queremos que assim seja
porque se ela pudesse abraçava-nos
pegava em nós e dava-nos o seu pico mais alto para morarmos
e vermos que o mundo em volta é que é pequeno

esta ilha é uma ilha de solidão e gosto dela assim
quando me dá todo este tempo para reviver
quando me aproxima as coisas mais pequenas desta boca que tem tanta sede

esta ilha é uma ilha de solidão mas não nos deixa sozinhos
porque essa solidão é só mais uma maneira de colorir o espaço em branco
o espaço em azul o espaço em verde
o espaço em cor de sonho a cor em espaço

esta ilha é uma ilha tão grande que cabe nela toda a solidão do mundo
porque a solidão do mundo é do tamanho de uma palavra
uma palavra que se tiver que rimar rima com coração
e rima com silêncio e rima com o outono e com o inverno
e com a primavera e com o verão
e rima sobretudo com abraço porque o abraço é que dá descanso à solidão

esta ilha é a ilha de todas as ilhas onde se espera pela manhã seguinte
a ilha onde temos esta solidão virada do avesso
que é pensarmos que ninguém nos ouve
e ninguém quer saber em que parte do oceano estamos

esta ilha é a ilha de todas as ilhas que pensam que são a ilha da solidão
e há tantas ilhas assim e tão mais pequenas
ilhas que às vezes trazemos fechadas nas nossas mãos

esta ilha é tudo isto e tanto mais
porque nenhuma palavra sabe o que dizer
quando tem para dizer o que esta ilha tem para dar

e só me apetece dizer que esta ilha é a ilha do amor
e por ser assim é a ilha da poesia
e das aguarelas que mostram o lado de fora
por dentro do lado íntimo das coisas

e esta ilha somos nós
agora

com a solidão lá fora
à espreita do que estamos aqui a fazer

20 de outubro 2007

3 comentários:

O'Sanji disse...

Caro Daniel
Vamos sempre a tempo de descobrir novos talentos.
Não é retribuição, mas passe pelo plan(o)alto.
Um abraço

md disse...

lindíssimo este poema em que o imaginário da ilha nos percorre.

Anónimo disse...

Caro Daniel, amigo, colega,
Peço desculpa por não ter comparecido à apresentação do teu último trabalho, nem tão pouco ter dado um palavra de vida... coisas da vida...
Fiz uma pesquisa e descobri este teu espaço... Parabéns!
Pelos vistos adoptaste a ilha... ainda bem, ela precisa de ti!
Um abraço sincero,
Paulo Almeida