17 de janeiro de 2010




o inverno dura quase todo o ano assim que fechas a porta de casa
talvez porque a casa é grande demais para o que esperas da noite
ou deixaste de acreditar que depois da morte há um lugar melhor

enrolas-te no cobertor e acendes a lareira com os livros de viagens
a música faz-te alguma companhia às vezes pareces falar sozinho
o disco que acabou de girar riscando o silêncio no trapézio do frio

adormeces tão lentamente que reconheces como tudo acontece
sílaba a sílaba um pensamento tranquilo desliza na água do sonho

de dia tens tudo para andar apressado mas as tuas pernas pesam
a tua cabeça anda ocupada a contar árvores e avenidas despidas
procuras alguém como tu mas é difícil perceber quem passa feliz
os nomes das pessoas ficam cabisbaixos no meio de tanta chuva

contudo há sempre um café onde salvas uma porção de felicidade
ninguém te espera mas é assim mesmo que se saboreia um café

depois tens o fim de tarde com os cães dos outros o vento gelado
o cachecol ronronando em vez de um gato à volta do teu pescoço

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola Daniel. Que magníficas metáforas! Deu-me votade de enrolar esse cachecol à volta do meu pescoço friorento. Tenho 5 gatos e um caniche. Hum... Deixaste-me a pensar. He! He! Bjinhos. Ana Lamego.