28 de maio de 2010



esse rio na selva é o único poço onde podes ser transparente
o rio que te obriga a despir a inquietação de seres pequeno
e te permite ser deus com apenas dois remos e uma candeia

nessa viagem compreendes as coisas que sempre te pesaram
aceita-las como quem concorda com a hora da morte e sorri
esvazia os bolsos e acrescenta os trocos mal geridos da vida

o rio é muito mais que uma artéria serpenteando e circulando
corpo de água que nunca irrompeu nem nunca se dissolveu
escrinventando nas margens as raízes com que o teu silêncio
há-de crescer até ser a única meditação que te arrepia a pele

os teus sentidos são uma chama que respira nas tuas mãos
fechas as mãos e apagas tudo quanto te desacomoda a alma

e depois és igual a uma canoa que prospera na escuridão
um corpo que é um poema líquido doçura solvente de sonho






in "um segundo é passado" daniel gonçalves 2010

2 comentários:

Anónimo disse...

Finalmente! Gostei. Gosto. Interessante. Muito.
1 Abraço
Sandra Ferreira

augusta disse...

Há quantos dis por aqui passo... Hoje valeu!
Em construção? Também eu gosto. Muito.

Um beiJo cá de Santo Tirso.

[E a entrega do prémio? Para quando?

Augusta