para todos os amigos deste blogue... BOAS FESTAS! E MUITO MUITO AMOR!
30 de dezembro de 2007
20 de dezembro de 2007
tenho girassóis na mesa onde deixei o silêncio
aberto sobre um livro de poesia chinesa
qualquer um poema de qualquer um poeta
antigo como o correr das águas
para dizer muito melhor o que uma natureza morta tem de vivente
ou o que uma natureza morta tem de belo
se nos olhamos no mesmo perfil e estamos sozinhos
10 de dezembro de 2007
poema com fotografia de zdzislav beksinski
mostrando a mesma metade
do que somos?
radiografia do outono
ainda é verde
o nome das folhas
por dentro do outono
a luz tira uma fotografia
da alma das coisas
por dentro do outono
sei que tenho um poema
à espera da minha boca
em chagall com paris
(mas tenho mais chagall em mim que paris)
na verdade estou num sonho
com o gato que sempre quis ter
e uma janela de uma casa que desse para a vista mais amorosa
de uma tarde de outono
com cores de uma vida feliz
e o rosto do homem que tem um poço no coração
olhando para trás de tudo isto
como se só permitíssemos ao olhar
um certo chagall
com paris na corrente sanguínea
2 de dezembro de 2007
a restauração do silêncio (1 de dezembro)
talvez te comovesses como eu
começavas por pegar no mesmo silêncio
e era um poema que ia correr
das tuas mãos (eu sei
tens a mesma sede que eu)
como um pensamento atravessado de serenidade
ou pontuado pela paz do mundo
dir-me-ias que o paraíso já não existe
porque acabou de se pôr à nossa frente?
para o joão ricardo
a simetria do tempo
e olho o mundo à minha volta
sou o silêncio mais alto
o ente magnífico que dá sentido
ao tempo
o envelhecer lento do telhado
diz-me que preciso tomar cuidado
com o inverno
e numa simetria impossível de condizer
sinto que também eu me acautele
dos dias indelicados
que hão-de vir
com chuva e vento
e outras tempestades
lembrar-me que os pés precisam
de raízes fortes
18 de novembro de 2007
não é preciso perceber islandês para sonhar
não é preciso nem uma palavra sequer
para a paz nos surpreender
e a emoção completa
a música perfeita da delicadeza
e os gestos enternecidos da
beleza
não é preciso quase nada para sermos
felizes:
basta partilharmos
(para a maria clara do vale)
para o joão ricardo lopes
17 de novembro de 2007
15 de novembro de 2007
I'm glad you are a girl
I'm pleased to know you
I like you for you
I'm happy you're growing up
Reach and you won't lose me
Destroy the objective, but still sur- vur- vive
You are angry and that's okay
Forgetful or pretending
Tired, ill, or angry, or cold
More assured of what to do
But I do care for you (What a beautiful gift for me ?)
Reach and you (rejection?) won't lose me
Destroy the objective, but still survive
You are angry and that's okay ... yes
I am not afraid of your anger
What do you need? What do you want?
I love you and I know that you can figure it out
pode uma música ser mais bela?
3 de novembro de 2007
29 de outubro de 2007
SEM TÍTULO (depois de antónio lobo antunes quem ousa inventar títulos?)
tenho para te dizer um estuário de luz que desagua na boca da manhã
tenho para te dizer os lunários e as contradanças do sonho
os anjos que caíram nas asas deste poema
tenho para te dizer qualquer coisa que não sei como trazer no coração das mãos
qualquer coisa que não tem outro movimento
senão no apertado sentido destes versos
como se eu soubesse que tudo isto não passa de um poema
para te dizer precisamente que acordei contigo nos meus olhos
27 de outubro de 2007
poema com foto de angelicatas
no coração da palavra és o coração da poesia
no coração da ilha és o coração do horizonte
no coração da flor és o coração do sonho
no coração do silêncio és o coração da paz
no coração da praia és o coração do mar
no coração da estrela és o coração da noite
e no coração do amor és o coração da vida
o coração do coração do coração do coração
daniel gonçalves
como um poema (para antónio ramos rosa)
nasceu-me uma rosa no coração
para não ter de regressar ao silêncio
nasceu-me uma rosa no coração
para voltar a entrar na casa da poesia
nasceu-me uma rosa no coração
e os nomes das coisas iluminaram-se
nasceu-me uma rosa no coração
e esqueci-me que tenho uma boca
nasceu-me uma rosa no coração
e é a ti que me dedico o seu perfume
daniel gonçalves
COMO UM POEMA QUE LEMBRASSE MIGUEL TORGA E O ATRAVESSASSE À DISTÂNCIA DE UMA MONTANHA PROFUNDA
o homem tem as mesmas raízes de deus
como se fosse a mesma árvore
que sustenta o céu
o homem vai no mesmo caminho que o seu cão
e leva na sua mão o pedaço de pão
que há-de enganar a fome aos dois
o homem sabe a palavra com que a pedra
escuta os quatro lados do vento
e a pedra sabe a palavra com que o homem
fia o silêncio das constelações pesadas da noite
o homem é o poeta e é o profundo destino do vazio
tem no seu coração a última flor do mundo
e na sua boca apenas outro grito
o homem quis revelar o mistério íntimo da vida
e fê-lo com todas as coisas que o protegeram da morte
todas as coisas que a terra soube dar
como uma bênção que um anjo esqueça propositadamente
no altar da respiração da manhã
daniel gonçalves
22 de outubro de 2007
palavras para a apresentação do livro "dez anos de solidão" em santa maria
esta ilha é uma ilha de solidão mas não é a ilha da solidão
esta ilha é uma ilha de solidão quando olha o mar em sua volta
quando se fecha para dormir sobre a eternidade
quando se leva para fora no silêncio adocicado de quem parte
esta ilha é uma ilha de solidão porque queremos que assim seja
porque se ela pudesse abraçava-nos
pegava em nós e dava-nos o seu pico mais alto para morarmos
e vermos que o mundo em volta é que é pequeno
esta ilha é uma ilha de solidão e gosto dela assim
quando me dá todo este tempo para reviver
quando me aproxima as coisas mais pequenas desta boca que tem tanta sede
esta ilha é uma ilha de solidão mas não nos deixa sozinhos
porque essa solidão é só mais uma maneira de colorir o espaço em branco
o espaço em azul o espaço em verde
o espaço em cor de sonho a cor em espaço
esta ilha é uma ilha tão grande que cabe nela toda a solidão do mundo
porque a solidão do mundo é do tamanho de uma palavra
uma palavra que se tiver que rimar rima com coração
e rima com silêncio e rima com o outono e com o inverno
e com a primavera e com o verão
e rima sobretudo com abraço porque o abraço é que dá descanso à solidão
esta ilha é a ilha de todas as ilhas onde se espera pela manhã seguinte
a ilha onde temos esta solidão virada do avesso
que é pensarmos que ninguém nos ouve
e ninguém quer saber em que parte do oceano estamos
esta ilha é a ilha de todas as ilhas que pensam que são a ilha da solidão
e há tantas ilhas assim e tão mais pequenas
ilhas que às vezes trazemos fechadas nas nossas mãos
esta ilha é tudo isto e tanto mais
porque nenhuma palavra sabe o que dizer
quando tem para dizer o que esta ilha tem para dar
e só me apetece dizer que esta ilha é a ilha do amor
e por ser assim é a ilha da poesia
e das aguarelas que mostram o lado de fora
por dentro do lado íntimo das coisas
e esta ilha somos nós
agora
com a solidão lá fora
à espreita do que estamos aqui a fazer
20 de outubro 2007
15 de outubro de 2007
5 de outubro de 2007
um poema para o carlos vaz, a maria do sameiro barroso e a gabriela funk (digníssimos amigos que vão de mãos dadas com este novo livro)
o mundo vem ter comigo como um rumor de sonho
uma existência ténue de luz que soletra a respiração
a poesia está nesse movimento que me abre as mãos
e as palavras vêm ter à boca como pássaros na praia
atordoados pela paz que o mar inventa na rebentação
não sei explicar como a metáfora se prende ao poema
nem como a água da música leva cada um dos sentidos
não sei como dentro de mim há este fogo intermitente
que me deixa dormir enquanto morrem as últimas flores
e o paraíso se completa com os nossos gatos feridos
o mundo atravessa-me o coração para que possas escutar
as mais pequenas coisas que deixas no esquecimento
tantas coisas que eu sei estão à espera da minha boca
ou da minha folha carregando o peso de cada anjo
que para cada um dos males do mundo eu invento
3 de outubro de 2007
1 de outubro de 2007
26 de setembro de 2007
dez anos de solidão: um novo livro... porque há amigos num labirinto...
dez anos de solidão ou as horas todas desta vida de silêncio
para encontrar na profundeza da noite a cintilação da manhã
dez anos de solidão para silabar a poesia na luz das palavras
no mesmo carinho com que nos confiamos ao clarão do amor
dez anos de solidão com a boca atada ao cuidado da paz
com o corpo protegendo a delicada promissão do paraíso
com que cada verso se acende contra a inclinação do frio
dez anos de solidão para que me crescessem estas mãos
e houvesse buganvílias anulando a tristeza do fim da tarde
barcos com sonhos na proa e nas asas brancas das velas
levando ao último horizonte as pedras densas do cansaço
dez anos de solidão como uma casa erguida contra o tempo
onde cantasse a língua com as suas primaveras secretas
e fosse possível inventar um poema contra o esquecimento
ou o cume do inverno que é termos a morte à nossa espera
(para eles)
25 de setembro de 2007
23 de agosto de 2007
nem perto desta minha sombra caindo lentamente com a tarde
não estão de outro lado nem estarão em casa
esperando por mim
não estão deste lado do mundo sequer
que este mundo é de quem sonha o entardecer
e deixa o corpo voar num tempo onde tudo existiu
numa perfeição impossível de repetir
aí estavam vocês
comendo um gelado
sentadas na beira da estrada
com tudo isto por trás
sem título de momento (para sempre)
neste verão
há um espaço onde as asas cabem com os sonhos
do mundo
há uma palavra que se esquece do seu peso
e voa até ti
(diz que o fim da tarde é o perdão do sol
às coisas imperfeitas)
OBSERVAÇÃO: o último verso foi inspirado num verso de um poeta que não lembro agora mas que vou homenagear em breve... dizia: a névoa é o perdão do sol às coisas imperfeitas... quem me dera ter inventado isto!)
4 de agosto de 2007
o post menos poético de todos os posts menos poéticos
no momento em que van gogh
sonhou perpetuar a noite
em arles:
se possível sozinho na primeira hora
e contigo para o resto do verão
15 de julho de 2007
tempo I
para que o teu afecto tenha tempo de me percorrer
in "o tempo mais breve" daniel gonçalves
sem título (no regresso a uma tarde na ponta do pargo)
maior que o precipício da distância
maior que o silêncio que me deixou as asas do lado de dentro do coração
tinha para te dizer uma palavra que talvez me conseguisse
devolver a boca
uma palavra que iniciasse o curso perdido da poesia
e me desse um pouco da paz recolhida nos teus olhos
10 de junho de 2007
sem título (por falta de palavras)
é uma bordado de silêncio
a delicadeza que embalas
é um encanto de silêncio
a criança que baptizas
(para o rodrigo)
28 de maio de 2007
22 de maio de 2007
palavras com klimt com palavras
no teu dançante sonho
tão bela que és
quando me atravessas
assim como uma tarde de luz
entreaberta à felicidade
do mundo
17 de maio de 2007
como a ler a imagem
com as flores
pétalas das palavras doces
com que te sonho
e o lugar onde chego
é este poema
o coração e o tempo
da felicidade
25 de abril de 2007
um poema com cartier bresson
um instante de luz preso à bicicleta que acorda a manhã
sou eu que me prendo à retina das coisas transparentes
sou eu que reconheço os contornos das primeiras coisas
é a mim que se atam os diademas das palavras felizes
é a mim que a poesia vem dizer onde está a tristeza
para não voltarmos a essa casa a essa colina de sede
desde que encontrei a tua boca rescrevendo o tempo
um tempo que não há noutro lugar nem noutro afecto
como se soubesses a exacta medida em que se ama
ou por que asa se erguem os carinhos sobre o amor
um instante feliz asilado no ventre das nossas mãos
como uma moeda para pagar a felicidade do mundo
um instante de luz que nos compense da escuridão
com que os sonhos se lançam para os nossos olhos
17 de abril de 2007
dançando na voz da palavra (com degas)
e há a delicadeza do teu olhar
há palavras amorosas
e há o amor do teu coração
há palavras doces
e há a doçura do teu olhar
há palavras tantas palavras
para dizerem tanta coisa
e há o teu silêncio dançando
dançando a beleza do mundo
(para ti, beta)
14 de abril de 2007
van gogh e um detalhe esquecido
como és bela
como és tão bela
com a amendoeira dos teus sonhos
a iluminar a tua boca
doce
tão doce
14 de março de 2007
2 de março de 2007
esquina do tempo (escrita agora)
onde vou
o que está daquele lado do silêncio
para onde vou puxando as mesmíssimas palavras
de sempre
será que a chuva há-de ser a mesma
ou a tristeza põe-se ai de outro jeito?
1 de março de 2007
às 11 e 11 com rufus wainwright
Woke up this morning and it wasnt in heaven
Those are the reason 'bout
Where I was sleeping but I was alive
I was alive
Woke up this morning at 11:11
John was half-naked and Lulu was crying
Over a baby
That'll never go crazy
But I was alive
And till the end of this world,
We'll all load in a dump truck of human
11:11
What else can I do,
What else can I do
Woke up this morning and
Something was burning
Realized that everything really
Does happen in Manhattan
Thoughts were of characters
And afternoons lying with you
And you were alive
Ohh, the hours we are seperate
11:11 is the precious time we wasted
So pack up your bleeding heart
And put away your posies
I don't want to have a drink
Or play ring around the rosie with you
Oh no, no
Ohh, the hours we are seperate
11:11 is the precious time we wasted
So let the blind fight the blind and see,
As the fall take over summer
Bringing the lattice roses
And as winter brings the spring rain
And to the end of this world,
We'll all load in a dump truck of human
11:11
26 de fevereiro de 2007
poema entrecortado com silêncio e outra coisa
ou não houvesse mais conchas retidas no desanoitecer
perdi-me na formosa praia que respirava a última maré
levando os despojos de volta à mão fechada da procura
escutei uma música prevendo o subsilêncio da espera
senti um pássaro desenhando um poema na sua árvore
como se o chão o incentivasse com o peso das palavras
e as coisas tristes pereceram assim na sua fragilidade
as promessas e as mesas postas no sabor da ausência
as orações diluídas no vento um ritual alinhado em paz
tudo se perdeu em fio e só o sentido de luz se reergue
um momento levando uma lágrima perfeita no seu rosto
soprando o orvalho na suavidade do nosso amanhecer
um momento para voltarmos a pegar na raiz do coração
e caiarmos enfim as paredes para as nossas buganvílias
31 de janeiro de 2007
se o amor é uma palavra é uma roseira esperando a tarde
se o amor é uma palavra é uma casa acordando as janelas
se o amor é uma palavra temos de lhe atar a nossa boca
e desenhar no seu coração a água que nos leva da terra
assim que percebemos a delicadeza dos nossos carinhos
quando sabemos que o horizonte se prende à nossa mão
e não há outro pensamento além do nosso sonho alado
quando ampliamos a sedição do tempo nos nossos ombros
ou estamos parados num instante à espera da eternidade
quando olhamos para a nossa sombra nos dorso da noite
e não há outra asa para nos unirmos à constelação da paz
quando sentimos os pássaros trazendo a primeira manhã
depois de termos amontoado as pedras do nosso cansaço
o amor é uma palavra porque está à espera deste carinho
deste arquipélago destas mãos deste sopro desta corrente
poema para JC
26 de janeiro de 2007
dez anos de solidão ou as horas todas desta vida de silêncio
para encontrar na profundeza da noite a cintilação da manhã
dez anos de solidão para silabar a poesia na luz das palavras
no mesmo carinho com que nos confiamos ao clarão do amor
dez anos de solidão com a boca atada ao cuidado da paz
com o corpo protegendo a delicada promissão do paraíso
com que cada verso se acende contra a inclinação do frio
dez anos de solidão para que me crescessem estas mãos
e houvesse buganvílias anulando a tristeza do fim da tarde
barcos com sonhos na proa e nas asas brancas das velas
levando ao último horizonte as pedras densas do cansaço
dez anos de solidão como uma casa erguida contra o tempo
onde cantasse a língua com as suas primaveras secretas
e fosse possível inventar um poema contra o esquecimento
ou o cume do inverno que é termos a morte à nossa espera
(para os que sabem o que é dez anos de solidão)
20 de janeiro de 2007
18 de janeiro de 2007
poema com manet
o frágil movimento de cor sobre um círculo de afectos
agora que a pele se dissolveu como uma voz à chuva
suspendendo na respiração as margens do firmamento
agora que a casa se musicou de um segredo inflamável
em cada imagem perfumada na doce seda das violetas
com a manhã crescendo no tear límpido de cada janela
toda esta maré desviada toda esta erosão desatenta
me parece agora tão nítida tão concreta tão pacífica
como se os gestos se adentrassem seguros no chão
escutando aquilo que achavam ser o pulso do tempo
agora que as palavras têm um carinho um rosto sereno
como os pássaros têm asas para um coração tão leve
acendo a pulsação transparente das pequenas coisas
e procuro o sonho a menina dos olhos do pensamento
15 de janeiro de 2007
verso(s) com foto de manuela vaz
todos os dias se dilui velozmente a madrugada
será assim tão escassa a luz nas nossas vidas?
5 de janeiro de 2007
poema de amor com instante de bresson
bresson
partilhado por danielsg.
tenho um poema de amor declinado nos meus olhos
como uma transparência que emerge deste silêncio
um poema de amor que fala das coisas mais pequenas
as coisas que esperam que lhes doemos a nossa boca
estou à espera que repares na forma como te escuto
ou como te toco ou como te sinto rente aos sentidos
ou como me movo entre a tua luz entre as tuas mãos
estou à espera que encontres o coração deste poema
e sintas nele a perfumada vereda dos nossos afectos
a casa com as suas janelas alinhadas com os gerânios
e toda a delicadeza de um sonho acordado como a cal
porque eu sei que temos um lugar onde o anoitecer
é outra forma de recolher uma folha pacífica ao tempo
porque és tu quem me pega no olhar ao amanhecer
e me recolhe as primeiras palavras o primeiro poema